Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 7º Volume | Page 34

Entretanto, talvez seja importante não nos limitarmos a outro discurso naturalizante e patologizante, desta vez, sobre adolescência, reproduzindo o discurso de que são difíceis, que não conseguem respeitar limites, que não conseguem ter responsabilidade, que adolescentes não gostam mesmo de estudar, a fim de não naturalizarmos um conceito de adolescente, patológico e de manifestações universais. Para isto, se impõe nos atentarmos ao significado que escola tem oferecido através de sua rotina, sem desconsiderarmos que ela também pode ter práticas que legitimam desigualdades ou que façam supor igualdade de oportunidades, pelo não reconhecimento efetivo das realidades daqueles que são (ou deveriam ser) seu público alvo, os alunos.

Entendemos que o tema sobre o contorno que a escola tem tomado e seu alcance na transformação que seu papel pode inferir a realidade concreta vivenciada por seus membros, também deve ser discutido e pensado pela psicologia enquanto ciência preocupada e voltada para a saúde. No caso destes adolescentes em medida socioeducativa esta preocupação se acirra.

Um trecho escrito por Emir Sader, na Apresentação do livro de Mészaros de 1930 sobre a educação, entendendo que este tema está na raiz, ou deveria estar, da socioeducação, provocando-nos a pensar sobre esta possibilidade:

[...] o simples acesso à escola é condição necessária, mas não suficiente para tirar das sombras do esquecimento social milhões de pessoas cuja existência só é reconhecida nos quadros estatísticos. E que o deslocamento do processo de exclusão educacional não se dá principalmente na questão do acesso à escola, mas sim dentro dela, por meio das instituições da educação formal. O que está em jogo não é apenas a modificação da política dos processos educacionais [...] mas a reprodução da estrutura de valores que contribui para perpetuar uma concepção de mundo baseada na sociedade mercantil. (p. 11-12)

Observamos que as falas dos adolescentes nos permitiram reflexões acerca de práticas de controle dos corpos, controle dos comportamentos que resistem à disciplinarização coercitiva, práticas que tem se alastrando e avançando ao ponto da inauguração da UES, apesar das lutas antimanicomiais estarem na proximidade de concluírem a desativação destas instituições. Um discurso que repetidamente vai alcançando a reversão de práticas.

PATHOS / V. 07, n.04, 2018 33

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