Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 7º Volume | Page 19

É importante fazer tal preâmbulo, pois são peculiaridades de uma área que não é muito conhecida de fato. Há muito “fetiche” e falsas idéias, que circulam e se multiplicam, já que grande parte da população subestima o que acontece com os jovens que são julgados em Processos de natureza infracional. Está incutido na crendice popular que não há punição para adolescentes infratores, que o sistema é muito brando, ou ainda que a Polícia prende, mas o judiciário solta. Tais ideias advindas de uma enorme necessidade estritamente punitiva, se alastram como rastilho de pólvora. Sob o manto do desconhecimento de como se dão as execuções dos devidos processos legais, depositam no indivíduo toda a responsabilidade pelas mazelas, ignorando a abissal e galopante desigualdade de classes que retroalimenta um sistema social excludente, entre outros fatores relevantes. Não é retórica sazonal, a idéia de que vivemos tempos em que o “ter” se sobrepõe ao “ser”. Digo mais, nessa sociedade capitalista financista, o “ter” dá mesmo forma e corpo, ou seja, “existencialidade” a uma casta despossuída, tida como inferior, invisível. O significado e o valor do que “eu tenho” engole minha essência.

Penso essência como subjetividade, e esta é construída ao longo do desenvolvimento humano; é via de mão dupla com o meio em que se vive. Se nos ensinam todos os dias que a importância e o sucesso de cada um está na “gaveta” do Capital, porque eu não teria acesso a ela, da maneira que eu puder? O meio proporciona experiências vivenciais que enriquecem e pluralizam o indivíduo, conforme as possibilidades. Para que isso seja possível, algumas condições básicas são necessárias. Quem não as tem, e tampouco as acessa por meio do Poder Público, tem que contar com uma capacidade resiliente e de subordinação, nem sempre possível, mormente em meio a certas fases da vida em que o imediatismo chega sempre em primeiro lugar.

Bem, as possibilidades da Psicologia na Socioeducação são múltiplas, e trabalho não lhe falta! Há pelo menos dois âmbitos que devem ser contemplados para a atuação: o individual e o contextual. Numa relação dialética, o profissional atento e crítico, deve estabelecer uma “conversa” entre eles. Sob o olhar da Psicologia, o profissional deve fazer uma “varredura” contextual e conjuntural para poder receber e acolher continentemente a subjetividade do seu atendido.

PATHOS / V. 07 n.04, 2018 18

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