Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 7º Volume | Page 14

Outro ponto de destaque consiste nos encaminhamentos de adolescentes feitos pelas equipes psicossociais dos centros socioeducativos. Embora uma prática estabelecida e importante para o trabalho em rede, observa-se o encaminhamento prioritário de internos que apresentam problemas disciplinares. Neste sentido, a psicoterapia passa a ser concebida como lugar de adequação de condutas de adolescentes arredios aos procedimentos cotidianos dos centros.

Ali, o trabalho atento de triagem por parte dos psicoterapeutas ganha especial relevância. Ao se questionar a quem serve a psicoterapia – ao centro socioeducativo ou ao próprio jovem – evita-se que a prática surja como instrumento de controle institucional travestido de estratégia de saúde mental.

Considerações finais

A psicoterapia dentro do contexto institucional de medida socioeducativa de internação deve ser analisada com cautela, a fim de que não seja atravessada por propósitos outros que não o da saúde mental e o da inclusão social. Por consistir em uma estratégia localizada em um espaço heterogêneo, marcado por demandas e forças diversas, como o Judiciário, a segurança, a educação, a política, entre outros, as pressões para a captura da prática psicológica são inevitáveis.

Desta forma, cabe aos profissionais um posicionamento crítico diante de sua prática. Os encontros semanais jamais devem se prestar às estratégias de domínio e controle sobre o jovem. A descoberta dos medos e potenciais dos adolescentes atendidos, assim como a conquista da autonomia e alegria de “ser-si-mesmo” somente se tornam possíveis através do encontro humano desprovido da intenção do rapto de subjetividades.

A lógica do trabalho interdisciplinar não deve ser confundida como completa apropriação do discurso e das ações psicológicas. O trabalho em rede é fundamental e consiste em um dos pilares das práticas democráticas. Contudo, a conversa entre estas dimensões distintas exige atenção, uma vez que nem sempre seus propósitos são convergentes.

Apesar de todas as armadilhas, a constatação da psicoterapia como uma estratégia riquíssima para o crescimento destes jovens é evidente. Além da proteção, o encontro individualizado atende a necessidades psicológicas pontuais que podem se perder com facilidade nas ações de grupo instituídas. O encontro genuíno entre subjetividades em meio às tantas demandas de “como ser e pensar” resgata os conteúdos mais legítimos do jovem, aqueles que indicam o caminho da saúde.

PATHOS / V. 07, n.04, 2018 13

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