Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 7º Volume | Page 11

Já em outras situações, os adolescentes podem sofrer ameaças ou violências por parte de jovens e, inclusive, de funcionários da instituição. São impedidos de relatarem opressões verbais e físicas, tornando-se reféns de uma situação que promoverá angústias diversas.

Em ambas as circunstâncias, o silêncio ou o discurso pré-moldado se tornam estratégias perversas dentro da própria medida socioeducativa. Falar aquilo que o outro-profissional deseja ouvir traz consigo o avesso do propósito da internação, ao esconder os conteúdos psíquicos marcados pela violência, humilhação e revoltas.

A psicoterapia, neste contexto, surge como possibilidade de um espaço preservado e mais neutro dentro da configuração socioeducativa. A não elaboração de relatórios e a ausência de compromissos diretos com o centro socioeducativo no que tange aspectos de segurança, permitem que o contato psicoterapeuta e adolescente transcorra de maneira mais genuína. Como espaço resguardado pelo princípio de sigilo profissional, percebe-se com nitidez a liberdade do adolescente para expressar conflitos e desejos. Alguns manifestam inclusive planos de prosseguir com as atividades ilícitas, revelação pouco provável a ser feita para o assistente social ou psicólogo responsável pela elaboração de pareceres ao Poder Judiciário.

Além disso, a psicoterapia tem se constituído em apoio ao adolescente no tocante a denúncias de abusos e agressões cometidas dentro dos centros socioeducativos. Seu lugar estratégico na estrutura administrativa da instituição permite que se realizem com maior desenvoltura encaminhamentos acerca de situações de violência, minimizando coações por parte dos funcionários agressores dentro dos centros socioeducativos, ou até mesmo eventuais pressões de gestores coniventes com práticas violentas.

Apesar deste maior distanciamento, a relação entre psicoterapeutas e alguns profissionais de segurança eventualmente é estremecida. A força das representações acerca de um trabalho socioeducativo que privilegia a repressão e violência em detrimento da construção conjunta de canais expressivos, muitas vezes, atravessa os muros dos centros 3 4 . Assim, ameaças veladas e boicotes à psicoterapia têm sido observados, o que revela a importância de uma postura de enfrentamento por parte dos psicoterapeutas e outros profissionais comprometidos com a saúde mental para mudar a cultura institucional.

PATHOS / V. 07, n.04, 2018 10

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