Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 7º Volume | Page 10

Introdução

A oferta da psicoterapia em medidas socioeducativas de internação consiste em uma atividade bastante restrita no universo de atendimento a jovens em conflito com a lei no Brasil. Em São Paulo, no entanto, o serviço é oferecido aos adolescentes da Fundação Casa, pelos psicólogos da Unidade de Atenção Integral à Saúde do Adolescente (UAISA)1 , um espaço de saúde que complementa o aparelho de Atenção Básica do Sistema Único de Saúde (SUS).

Desde seu início em 2006, o serviço de psicoterapia tem enfrentado diversos desafios, como sua própria aceitação no espaço institucional, além da compreensão restrita de seus objetivos por parte dos centros socioeducativos, gestores e Poder Judiciário. Neste período de intensa construção de seus propósitos e identificação de seus limites, armadilhas são colocadas constantemente, exigindo posicionamento crítico dos psicólogos diante de questões como: a quem serve a psicoterapia, qual seu lugar dentro da configuração institucional e como responder às demandas de outras instituições e grupos que, com insistência, almejam agregar outros sentidos para a psicoterapia.

Dentro deste contexto, serão apresentados alguns movimentos característicos da dinâmica mantida entre o serviço de psicoterapia e os demais equipamentos que compõem o universo socioeducativo.

O espaço de proteção dentro da instituição

O universo socioeducativo é um espaço onde dimensões distintas se sobrepõem, formando um tecido heterogêneo composto pela esfera jurídica, a comunidades e seus valores, o jovem e sua família, a política e as pressões sociais, e a própria cultura institucional. O adolescente inserido na medida socioeducativa precisa ministrar as exigências de cada um destes grupos e instituições, a fim de conquistar sua proteção diante dos demais jovens, sua liberação do sistema de internação, entre outros.

Por exemplo, muitos internos escondem aspectos de sua vida familiar e de seus projetos para a equipe de referência2 , no intento de transmitir uma imagem positiva que resulte numa desinternação mais rápida. A construção de discursos padronizados como “quero trabalhar e estudar”, “parar de dar desgosto a minha mãe”, não raro, podem ser exemplos da obliteração de seus desejos em proveito de objetivos bastante díspares.

PATHOS / V. 07, n.04, 2018 09

Σ