O filho afirma gostar do trabalho da cuidadora, mas se queixa da falta de insistência com a acompanhada, desejando que a cuidadora fosse mais firme com Cassia em alguns momentos. O que ocorre é que Cássia as vezes não quer tomar banho, ou beber água, ou trocar de roupa, e Márcia não consegue convencê-la. Cássia é descrita por Márcia como teimosa e com gênio forte, ela não faz o que não tem vontade, a não ser que o filho a convença. Muitas vezes, Márcia descreve estas atitudes como provocativas, pois assim que Márcia vai embora, Cássia vai até o banheiro para tomar banho.
A construção da minha relação com ambas ocorreu de maneiras diferentes. Com Cássia a relação foi se dando de maneira afetiva, afeto que se iniciou em mim e que foi ofertado por Cássia à sua maneira, com um sorriso ao me receber, comentando se gostava de como eu estava vestida, o cuidado em ajeitar a cama para que eu sentasse, e a cumplicidade em realizar as tarefas juntas. Já com Márcia, o início foi de tentar colocar algum limite de espaço para que Cássia pudesse falar com privacidade, e foi se transformando em orientações sobre como lidar com o comportamento genioso da acompanhada, e logo tornou-se também um encontro em que podia falar sobre suas angústias e incômodos, partilhando com alguém da mesma equipe as situações que a impactavam naquele caso.
Desde o início dos encontros, o meu trabalho de psicóloga domiciliar foi se configurando em um trabalho de acompanhamento terapêutico (AT) a medida que pude pensar e possibilitar a ela oportunidade para vivenciar outros tipos de atividades em que poderia usar seu potencial criativo e buscar prazer e satisfação. Outra característica que também transformou os encontros foi a mediação exercida entre a acompanhada, a cuidadora e o filho.
PATHOS / V. 06, n.04, 2018 65
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