Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 6º Volume | Page 63

Em Agosto de 2016 fui procurada para atuar como psicóloga, através de uma empresa que presta serviços de home care, no caso de uma mulher de 88 anos que apresenta um quadro de uma doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), sendo esta progressiva. Hoje apresenta os sintomas de falta de ar, sonolência excessiva, perda de memória e confusão mental eventualmente. Devido a estes sintomas, a mobilidade da paciente foi se restringindo ao passar dos anos, se agravando em sua última internação que ocorreu em dezembro de 2015.

É importante citar que todos os nomes a seguir foram escolhidos de forma fictícia, visando a preservação da identidade dos envolvidos e cumprindo dessa forma os princípios éticos relacionados ao sigilo e confidencialidade.

A paciente aqui denominada como Cássia, reside em uma casa aos fundos, dividindo o quintal com seus dois filhos e suas famílias. Para chegar a sua casa é necessário subir dois lances de escadas, o que prejudica sua locomoção para a rua. O filho mais velho é o responsável pelo gerenciamento dos cuidados com a mãe, sendo ele quem solicitou ao home care a participação de uma psicóloga para auxiliar a equipe.

A queixa inicial apresentada era referente ao comportamento de Cássia em relação a equipe que a atende, que é composta por uma cuidadora diurna, uma fisioterapeuta três vezes por semana, a visita mensal de um Clínico Geral que acompanha o caso, e a partir da solicitação do filho, a minha entrada como psicóloga. Afirmou que Cássia não colaborava com as atividades da fisioterapia e tinha uma relação conflituosa com a cuidadora. Desde que começou a receber cuidados em casa, há cerca de quatro anos, várias cuidadoras haviam iniciado o trabalho com Cássia, porém desistiam em pouco tempo. A cuidadora denominada Márcia, uma mulher de cerca de 60 anos, conta que Cássia criava situações constrangedoras e se comportava de maneira grosseira. Apesar destas colocações, diz ter sido persistente, e que apesar de todas as situações, com o tempo, Cássia passou a aceitar sua presença. Márcia tem acompanhado Cássia há cerca de três anos.

Nas primeiras visitas, Cássia contou sobre seu passado e as histórias que viveu. Sua vida foi marcada pelo abandono da mãe, que a entregou a uma família para trabalhar como doméstica aos 12 anos, onde sofria maus-tratos.

PATHOS / V. 06, n.04, 2018 62

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