Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 6º Volume | Page 54

O sangue também é outro tema que se repete quando fala de seu fluxo menstrual: não menstruar, para ela, seria como se fosse “menos mulher” [sic]. Parece que a menstruação vem como algo concreto que prova a sua condição de mulher, mas quando tento esclarecer o significante do que seria ser “mais mulher” para ela, a mesma diz não saber responder, mas me pergunta: “você já se sentiu assim?” [sic]. Como se esperasse que a resposta estivesse fora.

Sendo assim, parece denotar que a identificação em ser o objeto de desejo da mãe se estende para as outras relações como defendido por Pereira & Scapin (2015) de que existe uma necessidade de tentar buscar a resposta em quem supostamente possui o falo, ao identificar-se com o saber do outro, pois espera que eu certifique qual seria a resposta.

Em diversos momentos da análise, Clarice se mostra tal como um enigma sem solução, como se apresentasse satisfação em permanecer insatisfeita. Parece buscar por um desejo inalcançável e totalmente idealizado e acima de suas expectativas.

“Eu já chego em casa arrancando a roupa” [sic] diz quando sai do banho suando novamente e que passa por esse processo sempre que pratica certas atividades que exigem esforço, como quando está estudando. Clarice ainda fala sobre um calor que sente, chegando a hipotetizar: “acho que são os efeitos dos remédios” [sic] – no caso, os que tomava para depressão - mais tarde diz que poderiam ser de causa hormonal.

Supõe-se que esse calor vem como uma questão sexual que não está sendo descarregada, além de refletir que talvez ele estivesse surgindo como uma forma de avisá-la que algo que ela gostaria de fazer não está acontecendo, como quando comenta sobre as colegas que vão para a balada e ela tem de ficar em casa estudando.

PATHOS / V. 06, n.04, 2018 53

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