Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 6º Volume | Page 40

Lacan (1938/2003) articula algumas questões referentes à família, principalmente no que diz respeito da passagem do instinto ao complexo, efeito da cultura na sociedade. Ao falar sobre os substitutos dos instintos, os chamados complexos, o autor afirma: “O complexo, com efeito, liga de forma fixa um conjunto de reações que pode concernir a todas as funções orgânicas, desde a emoção até a conduta adaptada do objeto” (Lacan, 1938/2003, p. 33).

Falando sobre os complexos, o autor nos ajuda a pensar sobre os delírios psicóticos, ou, “...crenças delirantes, nas quais o sujeito afirma um complexo como uma realidade objetiva, o que mostraremos particularmente nas psicoses familiares” (Lacan, 1938/2003, p. 35/36).

Podemos pensar a criança enquanto sintoma dos pais, em uma situação onde não encontra referência no pai, que não impõe a função paterna, função de corte, a mãe não lhe permite entrar (Mannoni, 1999).

Com o decorrer da análise, pôde-se notar um movimento nos pais, especialmente da parte da mãe, que questionou quando haveria a alta de Lucas. Em outros momentos, ela afirmava que o filho estava mais desobediente. Não há análise em crianças (especialmente psicóticas), sem que entre em jogo a angústia dos pais (Mannoni, 1999).

O trabalho com a criança foi no sentido mesmo de dar palavras, de oferecer significantes que talvez a mãe não desse, de oferecer sentido para suas ações. Como afirma Mannoni (1999): “Se respostas devem permanecer, para ela, forcluídas, a criança terá dificuldade em introduzir a sua questão, de uma outra forma que não seja pela desordem de seu comportamento”(p. 32).

Até o momento se fizeram mostrar alguns sinais de mudança do paciente, como uma permanência maior na sala de atendimento, e o estabelecimento de transferência, pois Fabiana relata algumas vezes, que Lucas fala das sessões, e que traz coisas para mostrar, muitas vezes são bonecos ou carros em miniaturas.

Por último, mas não menos relevante, podemos pensar o AVC do avô como a perda de uma referência paterna, como a queda de um significante fálico, talvez o único que estivesse detendo a função materna de uma posição esquizofrenante, em relação à Lucas (Mannoni, 1999).

PATHOS / V. 06, n.04, 2018 39

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