Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 6º Volume | Page 26

A criança, então, simboliza a lei quando determina o lugar exato do desejo da mãe, um desejo marcado pela falta. A função paterna só é representativa da lei sob esta condição. A confrontação da criança com a relação fálica modifica-se de maneira decisiva, no sentido que ela deixa a problemática do ser para aceitar negociar a problemática do ter (do ser o falo para o poder ter o falo). Sendo o pai detentor do falo, ele o reinstaura no único lugar em que ele pode ser desejado pela mãe, num lugar por excelência da falta. A criança, assim como a mãe, encontra-se inscrita na dialética do ter; a mãe que não tem o falo pode desejá-lo naquele que o detém: “a criança, igualmente, desprovida, poderá também cobiçá-lo lá onde ele se encontra” (Ibid.).

A reposição do falo em seu devido lugar é estruturante para a criança a partir do momento em que o pai, que supostamente o teria, tem preferência junto à mãe. Essa preferência é prova da instalação do processo da metáfora paterna e do mecanismo que lhe é correlativo: o recalque originário2 (Ibid.).

Disso conclui-se que a metáfora paterna marca um momento estruturante na evolução psíquica do sujeito, além de inaugurar seu acesso à dimensão simbólica, afastando a criança de seu assujeitamento imaginário à mãe. Ela lhe confere, portanto, o status de sujeito desejante. O desejo permanece, portanto, sempre insatisfeito, ele renasce continuamente, já que está em outro lugar que não no objeto.

Noção de Foraclusão do Nome-do-Pai

A noção de foraclusão é uma construção teórica que procura explicar o mecanismo psíquico na origem da psicose. Tal conceito nos diz da não-inclusão do significante do Nome-do-Pai e que pode fazer malograr o recalque imaginário.

A psicose, segundo a psicanálise, seria ocasionada por uma desordem na simbolização da experiência da castração e a foraclusão seria a falta da inscrição no inconsciente da experiência normativa da castração. Diferente de Freud, Lacan não considerava a psicose como uma “perda da realidade”. Lacan entendia que, se o Nome-do-Pai é foracluído no lugar do Outro, então a metáfora paterna fracassa, de modo que seria isto que constituiria a “ausência que dá a psicose sua condição essencial, com a estrutura que a separa das neuroses” (Lacan, 1958, p. 575).

O que define, acima de tudo, o Nome-do-Pai é o seguinte fato: este significante é a resposta sempre renovada a um “apelo” proveniente de um outro, de um semelhante externo ao sujeito. Só há significantes do Nome-do-Pai numa sucessão infinita de respostas “vindas à luz pelo simbólico” (Nasio, 1997, p.158).

PATHOS / V. 06, n.04, 2018 25

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