O caso Apolo
Apolo tem 32 anos, nasceu no interior de São Paulo e é filho único. É moreno, alto, tem o olhar forte e triste. Seu corpo também é forte, parece mesmo um deus.
A primeira vez que encontrei Apolo ele estava no corredor da enfermaria do hospital em que trabalho. A sua volta havia alguns técnicos de enfermagem e dois enfermeiros. Notei que ele segurava um cordão e um dos profissionais lhe pediu que entregasse o material. Ele não o fez, relatou que aquilo lhe pertencia e, por isso, não iria entregar. Os profissionais explicaram as regras do setor, mas Apolo seguiu afirmando que não iria devolver algo que era seu. Disse que já haviam lhe roubado seus documentos e seu currículo escolar e que não confiava em ninguém.
Em dado momento o paciente enrolou o cordão ao redor de seu pescoço e após a aprovação de uma das enfermeiras, um dos profissionais se aproximou e tentou tirar o cordão. Começou, então, o que terminou com o paciente contido, medicado e amarrado com seis faixas.
No primeiro atendimento realizado com Apolo, ele estava em seu leito, isolado, enrolado em um edredom, apesar do calor que fazia no dia. Foi receptivo a minha abordagem, mas um tanto superficial em sua fala. Mostrava-se desconfiado e assustado. Com o passar dos dias, Apolo começou a confiar mais em mim e, aos poucos, pôde compartilhar parte de sua história de vida. O vínculo foi, então, sendo estabelecido.
PATHOS / V. 06, n.04, 2018 19
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