Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 5º Volume | Page 83

Alguns pedidos provavelmente foram feitos aos alunos e professores, por meio de frases empresariais prontas, como de que esse seria um momento de “adaptação” para todos. A violência contida em tal pedido denuncia o movimento de sucateamento sofrido por esses alunos dentro de seu processo de ensino-aprendizagem. Como Charles Chaplin muito bem nos demonstrou no filme Tempos Modernos, a linha de produção, a adaptação à máquina de fazer dinheiro, a alienação em tal prática chega, infelizmente, ao campo do ensino. Questionamos se caberia aos alunos, professores e demais funcionários se adaptarem às mudanças?

O fato de me perceber no mundo, com o mundo e com os outros me põe numa posição em face do mundo que não é de quem nada tem a ver com ele. Afinal, minha presença no mundo não é de quem a ele se adapta, mas a de quem nele se insere. É a posição de quem luta para não ser apenas objeto, mas sujeito também da história. (Freire, 1996/2014, p. 53)

Dessa forma, Freire (1968/1987), em A pedagogia do oprimido, ensina que alunos, professores e o próprio ensino não podem ser coisificados e que ninguém educa ninguém, mas sim que o processo educativo se dá no encontro humano, onde educador e educando participam do processo educativo como pares, mediados pelo mundo no qual estão inseridos. Dentro desse novo escopo de ensino, infelizmente, não vemos essa possibilidade de encontro ensinante ocorrer. Pelo contrário, o ambiente nada facilitador desmonta cruelmente tal possibilidade, como um castelo de areia ao vento.

Diante disso, manifestamos aqui nosso total repúdio às mudanças que vêm ocorrendo nessa instituição e apoiamos os alunos que lutam para terem de volta um ensino de qualidade, que sejam respeitados, como alunos, mesmo como clientes e como seres humanos. Em prol de uma qualidade de ensino e do não sucateamento da aprendizagem, eis nosso protesto.

Prefiro ser criticado como idealista e sonhador inveterado por continuar, sem relutar, a apostar no ser humano, a me bater por uma legislação que o defenda contra as arrancadas agressivas e injustas de quem transgride a própria ética. (Freire, 1996/2014, p. 126)

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PATHOS / V. 04, n.02, 2016 82