Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 5º Volume | Page 82

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PATHOS / V. 04, n.02, 2016 81

Como se não bastasse a redução na carga horária dos estágios, a nova mantenedora anunciou no final deste semestre (julho de 2017) que as disciplinas teóricas também teriam suas cargas horárias reduzidas, impactando no desligamento de mais de 250 professores, segundo dados do sindicato responsável. Com isso, os professores que permaneceram vinculados à instituição teriam suas cargas horárias reduzidas e com isso reduções salariais. Vale ressaltar que em nenhum momento foi ofertado aos alunos algum tipo de desconto ou redução das mensalidades, embora não se trate somente de questões financeiras, mas da qualidade do ensino.

Diante disso e de outras inúmeras mudanças que ocorreram, os alunos começaram a se organizar na tentativa de reverter tais mudanças percebidas como prejudiciais e antiéticas. Iniciaram inúmeras tentativas de diálogo. Alguns alunos certamente correram o risco de serem vistos como resistentes às mudanças ou simplesmente “rebeldes”. Nesse momento, lembremos as palavras de Freire em A pedagogia do oprimido:

Uma das questões centrais com que temos de lidar é a promoção de posturas rebeldes em posturas revolucionárias que nos engajam no processo radical de transformação do mundo. A rebeldia é o ponto de partida indispensável, é deflagração da justa ira, mas não é suficiente. A rebeldia enquanto denúncia precisa se alongar até uma posição mais radical e crítica, a revolucionária, fundamentalmente anunciadora. A mudança do mundo implica na dialetização entre a denuncia da situação desumanizante e o anúncio de sua superação, no fundo, o nosso sonho. (Freire, 1996/2014, pp. 76 e 77)

A manifestação dos alunos ganha mais força e tal gesto é visto, aqui, como sinal de saúde, de luta por um sonho e por um direito. Entendemos que esses alunos lutam pelo direito de viver um Ser e Fazer democráticos. Para Freire, uma autoridade democrática valoriza a liberdade, jamais a minimiza ou vê em sua essência qualquer nuance de deterioração de algum tipo de ordem. Pelo contrário, a autoridade denota que a “A disciplina verdadeira não existe na estagnação, no silêncio dos silenciados, mas no alvoroço dos inquietos, na dúvida que instiga, na esperança que desperta” (p. 91).