Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 5º Volume | Page 75

Podemos pensar que há aceitação de que o mundo é desta forma, um novo conceito de normalidade, que ultrapassa a individualidade. Mesmo não achando que seja o melhor, os indivíduos assumem essa posição considerando que esta é o modo como as coisas são e que as relações acontecem.

Os participantes concordam ao associar os aplicativos com a vaidade, superficialidade, exposição e uma propaganda de si mesmos. Pois são selecionados ou descartados, a partir de suas fotos e descrição de perfil. Freud (1930/2016) de certa maneira nos explica esse acontecimento quando nos diz que a felicidade na vida é buscada no gozo da beleza, onde quer que ela apareça aos nossos sentidos e julgamento. Justifica com o fato de que a beleza das formas, dos gestos humano, objetos naturais, paisagens, criações artísticas e científicas, são formas estéticas que não oferecem extrema proteção contra a ameaça de sofrer, mas que compensa uma série de coisas. Ele postula também, que a “beleza” e a “atração” são características do objeto sexual. O discurso é diferente entre os participantes solteiros e a participante que possui um relacionamento sério. A visão e percepção de cada um, sobre o que os outros buscam e apresentam no aplicativo, é tida através do que eles mesmos buscam. Vemos isso, quando Renata, que passou a namorar depois de seu primeiro encontro com uma pessoa do Tinder, acrescenta que não buscava aparência e status. Pelo contrário, quando via homens muito bonitos e com alto poder aquisitivo, descartava antes mesmo de conversar, pois sabia que não eram reais e que teriam muitas outras mulheres com o mesmo desejo. Já os participantes que estão solteiros, relatam ao contrário:

O conheci e ele era aquela pessoa que você conhece e rola empatia das ideias e da forma de falar. Mas você vê que não é bem parecida com a foto, enfim. Não rola. (Leandro)

Uma pessoa legal para encontrar no aplicativo, seria uma pessoa bonita, que tivesse os mesmos gostos que eu.

Os diálogos demonstram que existe uma esperança por relacionamentos, ainda que seguida de uma série de frustrações, fazendo com que digam não acreditar nesta possibilidade na maioria das vezes. Uma explicação para isto, é o fato de que a opinião e a visão de cada um sobre o uso deste meio para se relacionar são tidas a partir da experiência individual de cada um, e não apenas de uma análise geral. Presumimos que desta forma o indivíduo tente fazer parte de uma massa que aposta na utilização destes aplicativos, desconsiderando suas experiências que não foram bem-sucedidas.

Quando perguntamos aos participantes a forma que conheceram os aplicativos e o que os motivou a baixar, todas as respostas referiram-se aos amigos, que os incentivavam e aconselhavam, pois era um meio de conhecer novas pessoas.