Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 5º Volume | Page 73

Hoje em dia a gente conhece uma pessoa e já fica com ela, já se envolve ali naquele momento e depois nunca mais vê . Antigamente era completamente diferente, tinha toda uma espera e envolvimento. Hoje, pelo menos se for ruim o negócio, a pessoa não for boa de papo, não for boa de cama e se o beijo não for bom, você já descobre rápido, mas isso acaba tornando as relações um pouco vazias. Porque antigamente você tinha vontade de realmente conhecer a pessoa, saber como ela é. Hoje em dia, não. As pessoas só querem saber de beijar, transar. É tudo uma coisa de um instante, um minuto. (Mariana)

Antes era mais difícil, por limitar os meios. Hoje a possibilidade é ampliada, posso selecionar pessoas. Acho que ficou mais fácil. Mas é limitador e determinista demais. (Leandro)

Freud (1930/2016) escreveu que boa parte de nossas misérias e infelicidades são decorrentes do que chamamos de civilização, seríamos mais felizes se a deixássemos de lado e voltássemos às condições primitivas, pois entende que tudo aquilo com que nos protegemos da ameaça do sofrer, é parte dessa civilização.

Ao serem questionados na pesquisa quantitativa, se recomendariam o uso de aplicativos de relacionamento para alguém que procura um relacionamento, 34% do sexo feminino e 40% do sexo masculino afirmaram que recomendariam, pois existem muitas possibilidades, sendo hoje a melhor forma de conhecer pessoas, e não usar esse instrumento é como ficar fora do mundo. Contudo, segundo 29% dos homens, os aplicativos de relacionamento só seriam recomendados para quem estivesse buscando relações casuais sem compromisso e caso quisessem algo mais sério, deveriam buscar outras formas. Nesse sentido, somente 23% das mulheres tem a mesma opinião dos homens. Para o público feminino, composto por 26% do total da amostra da pesquisa, não haveria recomendação dos aplicativos de relacionamento, pois entendem que devem ser encarados como o último recurso, por isso não recomendariam para alguém que estivessem buscando uma pessoa para se relacionar. Em contraponto, somente 10% dos homens compartilham da mesma opinião que as mulheres.

Encontramos uma contradição durante as entrevistas, onde ao conversarem com colegas que possivelmente quisessem iniciar a utilização dos aplicativos, todos os participantes incentivariam e diriam que vale a pena. Relataram que apoiariam seus amigos, porém seus discursos vieram sempre acompanhados de um “mas”. Cuidado e paciência foram as palavras que mais apareceram, no momento que pedimos para que aconselhassem estes interessados em fazer o download do aplicativo. Foi comum falarem que não sabem quem é a pessoa no outro lado do celular e quais suas intenções. Apontaram a dificuldade em encontrar alguém com uma conversa legal e a necessidade de ter paciência. Evitar encontros em lugares que não sejam públicos antes de criar uma intimidade com o possível parceiro também foram conselhos que surgiram em todas as respostas.

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PATHOS / V. 05, n.03, 2017 72