Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 5º Volume | Page 48

PATHOS / V. 05, n.03, 2017 47

Σ

Macabéa, ainda na primeira sessão após as férias, queixa-se da nossa ausência prolongada, dizendo que passou por diversos momentos em que se viu em conflito diante do outro – optando, muitas vezes por calar suas vontades. Sobre esses momentos ela diz “Eu pensava, meu deus, onde estão para me ajudar?!” – Essa fala da paciente é acompanhada por punhos cerrados e um olhar que esperava uma resposta. Diz que chorou por horas ao abrir nosso presente e que nesses momentos difíceis onde não conseguia expressar a sua vontade, recorria ao retrato da boneca Emília. Olhava para o retrato quando pensava “tem que ter outra forma!...” (sic). De viver? perguntamo-nos – O que reflete esse espelho? Macabéa, ao olhar para boneca Emília busca alguém. Nós? Ela? Seu verdadeiro SELF? Suas lágrimas nos servem de testemunha que o objeto simbólico era para ela algo de grandiosa valia – “um pedaço mínimo é sempre o espelho todo” (Lispector, C. 1998, p. 78).

Considerações Finais

Com este apanhado da teoria do amadurecimento de D. W. Winnicott e relato do caso clínico, procurou-se refletir sobre o benefício conquistado tanto pela paciente durante o processo terapêutico, quanto para o amadurecimento clínico do estagiário em psicologia. O resultado do tratamento exibido pela paciente, mostrou-se satisfatório em grande parte pela relação humana, possibilitando o surgimento de um espaço potencial onde ela pudesse encontrar um convite para a criatividade.

No setting, conseguiu-se mobilizar na paciente uma busca por sentido, trazendo significado as suas experiências. O convite a simbolização e o presente dado a paciente nas férias, que serviu como um objeto transicional, representa para a paciente um símbolo capaz de reduzir sua angustia de separação e para as estagiárias, uma ampliação da maneira de se realizar a clínica dentro de um espaço institucional que conta com seus complicadores próprios.

É peculiar ao estagiário o desejo pelo aprendizado, que o conduzirá nesta busca pelo saber através do espaço relacional da experiência – algo que somente se torna possível de frente com seu paciente. Aqui, reforça-se a importância do estágio clínico na formação do psicólogo.