Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 4º Volume | Page 50

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PATHOS / V. 04, n.02, 2016 49

No decorrer do nosso primeiro ano de atendimento manifestou baixa tolerância à frustração, rigidez e fixação em seu padrão de comportamento, como, por exemplo, ao iniciar uma nova sessão dava continuidade à brincadeira que terminara a sessão anterior ou solicitava que eu (analista) lesse livros de história enquanto desenhava, além disso, tinha dificuldade em terminar as sessões.  Sua rigidez também se fazia presente quando se mantinha fixada nas atividades da sessão não aceitando novas propostas de ampliação do brincar. Em suas brincadeiras ora permitia que eu fizesse parte de seu mundo, ora não, se isolando. Esse movimento era bem sutil, pois ia de um estágio a outro com muita facilidade, às vezes, na mesma sessão.

A mãe de Olivia conta que durante a gestação ficou internada da 27ª a 36ª semana de gravidez devido ao descolamento da placenta e, apesar dessa intercorrência, os resultados dos exames iniciais após o nascimento da menina foram normais, inclusive o do “pezinho”2. Entretanto, logo após seu nascimento surgiram as complicações que promoveram, no período de um ano, quatorze internações em que Olívia permaneceu hospitalizada de três a sete dias cada, chegando a ficar, numa delas, sete dias na UTI.

A primeira complicação surgiu quando Olívia manifestou uma alergia que os médicos diagnosticaram como intolerância à lactose e suspenderam, assim, o aleitamento materno. Em seguida, foram os problemas gastrointestinais devido à doença celíaca (intolerância ao glúten). Esse último diagnóstico foi descartado quando Olívia completou dois anos de idade. Depois disso, vieram os problemas respiratórios, cujos exames detectaram uma mancha no pulmão, analisada pelo cardiologista como “permanente”, além de uma disfunção em uma válvula do coração, para a qual fora submetida aos três anos de idade a um procedimento cirúrgico – via cateter – para restabelecer o bombeamento do sangue no seu coração e, desde então, sua saúde física tem se mostrado estável.

Quando Olívia ingressou na escola, aos quatro anos de idade, seus pais logo foram chamados pela coordenação para uma conversa. As professoras observaram que a menina apresentava algumas características que, segundo elas, precisariam ser investigadas, tais como: não olhar nos olhos, apresentar baixa concentração nas atividades, além de momentos de isolamento e irritação constantes.

Apreensivos, os pais de Olívia seguiram em busca de esclarecimentos e orientação. O primeiro diagnóstico foi de autismo e o médico indicou Risperidona 3. O pai não concordou com esse diagnóstico e tão pouco com a medicação, mas a menina seguiu medicada por algum tempo. Descontentes com esta situação, os pais decidiram leva-la a outro profissional que, imediatamente, retirou a medicação e sugeriu a introdução de terapias alternativas como: musicoterapia e psicoterapia. Dessa forma, desde os cinco anos, Olivia passou a realizar esses tratamentos.

A mãe não tinha dúvidas sobre o diagnóstico da filha, sentindo-se responsável pelo quadro. Para aliviar o sentimento de culpa, buscava atender todas as solicitações de Olívia, valendo-se, inclusive, de negociações como “moeda de troca”, o que prejudicava sobremaneira o desenvolvimento emocional de minha paciente, que era então tratada como um bebê em muitos momentos.