Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 4º Volume | Page 44

6 - Considerações finais

O CAPS AD citado, no qual atuou-se por dois anos e meio, localizava-se na cidade de São Paulo, em região de alta e muito alta vulnerabilidade social, segundo a Fundação Seade (Índice Paulista de Vulnerabilidade Social-IPVS) de 2010. Além disso, conforme o XII Censo Demográfico de 2010 realizado pelo IBGE, havia no território adstrito pelo CAPS AD mais de 260.000 habitantes. Porém, não existia no bairro vizinho outro serviço especializado neste tipo de tratamento, portanto, também se atendia a população desta região, com mais de 210.000 habitantes. Somando-se a população dos bairros, chegava-se a um total de 470.000 habitantes. Segundo dados do Ministério da Saúde (2015), existia em 2015 um total de 308 CAPS no Estado de São Paulo, destes 90 eram CAPS AD. Atualmente, existem sete CAPS AD IJ (Centro de Atenção Psicossocial da Infância e Juventude), especializados no público infanto-juvenil, serviços extremamente importantes, pois, é inegável, que a adolescência é uma fase do desenvolvimento humano distinta das demais, repleta de particularidades. De qualquer forma, tais serviços são insuficientes se considerarmos a alta demanda. Porém, vele ressaltar que a adesão ao tratamento de adolescentes considerados dependentes químicos continuaria sendo algo complexo mesmo se houvesse um número suficiente de serviços, devido aos variados e diversos fatores demonstrados neste artigo.

Não há dúvida que o jovem que se encontra no lugar de dependente químico necessita de uma atenção especial, assim como de serviços específicos, todavia sua adesão ao tratamento não se garantiria somente com serviços próprios e suficientes.

Um CAPS AD preocupado com a população jovem deve se questionar se sua linguagem vai ao encontro da adolescência, se são atrativos e acolhedores com tal demanda. Devem ainda se ater a infraestrutura e formação técnica-administrativa dos funcionários para atender de modo efetivo, a crescente e complexa demanda. Outro ponto importante seria a realização de um trabalho de promoção a saúde e prevenção precoce ao uso de drogas psicoativas, realizado em escolas e na comunidade, em geral. Os dados estatísticos brasileiros sobre o uso de drogas psicoativas na adolescência, apresentados neste trabalho, demonstram que o álcool e o tabaco são, absolutamente, as mais utilizadas, seguidos pela maconha. Dessa forma, seria essencial um trabalho de prevenção ao uso de drogas que envolva a família, pois segundo Justino, Paulo e Balla (2007) a experimentação e possível início do uso frequente e problemático de drogas legais, como o álcool e benzodiazepínicos, é realizado, em sua maioria, na própria residência do adolescente, junto aos familiares.

Destaca-se, também, a política de redução de danos, ainda tão controversa e polêmica para alguns. Porém, nas intervenções diárias em CAPS AD, apregoar apenas a abstinência total ou progressiva, como únicas formas de sucesso do tratamento seria ingênuo, violento, higienista e árduo de se alcançar, principalmente em se tratando de adolescentes. Além disso, é vital uma efetiva articulação com a rede de saúde local e outros serviços socioassistenciais e jurídicos da região, que podem agregar muito valor ao tratamento da dependência química, lutando contra o olhar estigmatizado e moralista, indo ao encontro da promoção do que se entende por saúde pública.

PATHOS / V. 04, n.02, 2016 43

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