Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 4º Volume | Page 30

PATHOS / V. 04, n.02, 2016 29

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Esse relato nos leva a questionar o que está sendo feito no Brasil para essas famílias e para essas crianças, já que nossa amostra se trata de uma família com nível sócio econômico acima da média brasileira, então não podemos considerar como um padrão. O que tem sido feito à favor dessas famílias hoje no Brasil? Temos hoje um Projeto de Lei tramitando na Câmara dos Deputados que tem o objetivo de redefinir perante as leis o que pode ser definido como família, excluindo assim os demais de direitos como Pensão, INSS e Licença Maternidade. No entanto, vai de encontro ao que o STF propõe, pois este determina que pessoas do mesmo sexo no Brasil podem se casar, obrigando assim todos os cartórios a realizarem esta união. Além de trazer consequências negativas a adoções e casamentos, pois a base do projeto afirma que família se constitui pela união entre homem e mulher e seus descendentes sanguíneos.

E quais consequências as crianças inseridas nesse contexto familiar irão sofrer em suas vidas, sendo vítimas dessa segregação? De fato, em nossa amostra já pudemos perceber o efeito dessa sociedade que fere os direitos dessas famílias, independente das leis estarem em vigor. Na maioria das vezes o preconceito já está no olhar, colocado ali desde o ínicio, por uma sociedade que ainda não foi educada para aceitar a diversidade.

5 - CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir do que foi levantado no histórico da homossexualidade, podemos perceber que apesar das aquisições, ainda é predominante a resistência e preconceito que a sociedade carrega. Contudo, o movimento homossexual pode ser considerado uma história em construção contínua em um processo de ressignificação, assim como a família e suas variáveis, abrindo espaço para que a sociedade retorne seu olhar para essas novas constituições familiares e seus respectivos membros.

É importante salientar, segundo Winnicott (1896), que a vida de um indivíduo saudável é caracterizada por medos, sentimentos conflitivos, dúvidas, frustrações, tanto quanto por características positivas. Dessa forma, quando aspectos como insegurança, sentimentos de ambivalência, satisfação imediata e impulsividade, são percebidos no desenho e estória de Beatriz e Lucas, concluímos que são características comumente encontradas em crianças, pois elas estão ainda se constituindo como sujeitos. O DF-E nos mostra que há um reconhecimento e aceitação dessas crianças quanto ao seu contexto familiar, porém, a partir do relato dos pais é possível notar uma grande preocupação em responder ao desejo do outro, motivados pelo contexto social preconceituoso. Este contexto também traz a manicure, citada na discussão do trabalho, que segue as determinações de padrão familiar e exige uma “mãe” para Beatriz. Será que um dia o conceito de família não será visto pela sua normatização, se temos hoje tramitando no Congresso Nacional um projeto de Lei que segrega essa e tantas outras composições familiares? E essas crianças, mesmo vivendo de uma maneira que percebemos como saudável e afetiva, já estão sob essa influência do meio, com as exigências do que é padrão e do que é aceito, tendo o Projeto como um retrocesso.