Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 4º Volume | Page 27

PATHOS / V. 04, n.02, 2016 26

Σ

Diante disso levantamos a questão da necessidade explícita de enquadrar a família dentro de um padrão heterossexual ou homossexual, posto que isso anula a singularidade e subjetividade como sujeito. Vieira (2011) cita que cada família carrega em si e transpassa para seus descendentes valores e significantes de sua própria realidade, construída por sua própria subjetividade, advindos da cultura que está inserida. Paulo ratifica esta afirmativa quando refere sobre seu desejo de constituir uma família independe de sua condição homossexual, não enquadrando assim sua família em um modelo pré-estabelecido, mas sim aos seus valores pessoais intrínsecos, em reproduzir o modelo pelo qual foi criado. Miguel também indica que seu conceito de família está muito além de padrões normativos.

"...Tem a ver com laço de amor, carinho, amizade, é tudo que tem a ver com emoção. (...) o sanguíneo é importante, mas eu acho que não se limita a isso.” E Paulo complementa: “Eu nem falaria de sangue, porque pra mim, família é amor, e tudo de compartilhar. (...) pode ter família de dois homens, pois a nossa família somos dois homens e dois filhos.

O ambiente facilitador, segundo Winnicott (1896-1971), inclui as funções paternas que complementa as funções maternas e a função da família. Aqui pode ser percebido que a função materna tem grande importância, mas deve ser levado em consideração o que esta função representa para a formação da criança, e não qual indivíduo irá desempenhá-la. Podemos perceber que nesta família as características da personalidade de cada pai acabam por naturalmente definir a função de cada um a ser desempenhada.

“..nada a ver com feminino ou masculino, a gente ta dizendo função paternal e função maternal, o Paulo tem tendência a ser mais o papel maternal, então ele é o que vai cuidar, ta com febre, é ele que vai saber lá onde que tá o remédio (...) e eu, tendencialmente, acabo tendo mais esse caráter paternal... não fez a lição, eu que vou lá brigar..., Relata Paulo.

Contudo, reconhecem a importância de se ter figuras femininas presentes na criação dos filhos, suprida pelas avós, tias, funcionárias da casa, madrinhas e professoras da escola. Nasio (2005) fala sobre a importância da figura feminina para a menina durante a infância:

Essa entrada no Édipo é também o momento em que a mãe, após ter sido afastada, volta à cena e fascina a filha por sua graça e feminilidade. Com efeito, a mãe, antes tão desacreditada, é agora admirada como mulher amada e modelo de feminilidade. (Nasio, 2007, p. 55).

Durante a aplicação do DF-E em S, ela afirma que desenhar menina é mais fácil. Então, embora seja criada em um ambiente com prevalência da figura masculina – seus pais e seu irmão, não há dificuldade de identificação com a figura feminina. Lucas também mostra em seu desenho o reconhecimento da figura feminina. Enquanto apresentava seu desenho, refere ao lugar feminino, uma das figuras aparentemente masculina, dizendo “Esse é a mãe”. Percebemos que Lucas possui uma referência do que é visto como maternal, concordando que a função paternal e a função maternal independe do sexo da pessoa que realiza.