Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 3º Volume | Page 53

Por mais que as pesquisas mostrassem (Artigo Datafolha, 2015) que o perfil do público dos dois grupos era bastante similar, salvo no que diz respeito à questão financeira, sendo “coxinhas” bem mais ricos, segundo declaração própria, o estereótipo pegou.

É sensível que esfera significativa da sociedade passou a se interessar por política e a participar da mesma por meio das redes sociais. Em nossa jovem democracia, tal parte da população se viu com voz e força para seu discurso pelo meio on-line das redes. O funcionamento das redes ocorre por meio de algoritmos que formam “bolhas políticas” (Artigo Estadão, 2016), onde o mesmo discurso circula em grupos que compartilham e “curtem” as mesmas coisas. O contato com o diferente é minimizado, quando não é impossibilitado, pelo funcionamento dos algoritmos. O resultado verificado é o estreitamento entre posicionar-se politicamente e pertencer a um grupo. Sempre posicionar-se politicamente é pertencer a um grupo, contudo, as redes on-line, ao eliminarem o diferente, maximizam a homogeneização de discursos e os diferentes passam a ser expulsos, bloqueados ou massacrados nesses grupos. Chegamos ao ponto em que pertencer a um grupo político é pertencer ao discurso produzido pelos seus membros. Do mesmo modo, simpatizar com determinado discurso levaria alguém a se associar, mesmo que de maneira involuntária, a um grupo político. A identidade política vai se moldando, para aqueles que “não se envolviam em política”, pelos seus interesses diante da vida, seus comportamentos e valores. Os grupos políticos vão se constituindo, assim, a partir da aspiração estética diante da vida.

Comparada à Grécia Antiga, o discurso sobre a estética que constitui a cultura ocidental supervaloriza a beleza material (do corpo, dos objetos, do que se tem) de forma apartada da imaterial (a existência em si, os valores, a história de cada um). Esta, muitas vezes, encontra-se subjulgada a lugar periférico. As pessoas são incentivadas a investirem caro em cirurgias, academias e suplementos alimentares, roupas e sapatos de marca, perfumes, tudo para se colocarem belas aos olhos dos outros. A compra do carro mais caro que se pode pagar e manter é naturalizado como conduta acertada, mas o mesmo não vale para o investimento que visa a transformação para se tornarem pessoas melhores no mundo. Quando o assunto é investir em cultura, conhecimento ou aprimoramento de si, é comum as pessoas julgarem os custos elevados demais, e apenas em situações de exceção os altos custos são tomados como sinônimo de status. O custo de uma cirurgia para colocar silicone nos seios é o equivalente a dois anos de psicoterapia, por exemplo. Contudo, ouvimos dizer com frequência que “psicoterapia é caro” e que cirurgia para enxerto de silicone “é possível, pois os médicos parcelam no cartão”. Diante das frustrações ou dificuldades amorosas, a análise quase nunca é pensada como primeira das opções para o aprimoramento de si, para se tornar uma pessoa mais interessante para si e para o mundo.

PATHOS / V. 03, n.02, 2016 52

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