Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 3º Volume | Page 11

A seguir privilegiamos um referencial teórico que visa permitir corroborar ou não a possibilidade de estarmos diante de uma representação da fantasia de incorporação. Situaremos primeiramente a introdução do termo incorporação por Freud, em 1915, e em seguida apontaremos os desdobramentos do conceito de incorporação na perspectiva do casal Abraham e Torok (1995).

3 - A incorporação: sob o domínio do princípio do prazer

Quando uma etapa puramente narcísica dá lugar à etapa objetal(...) Se o objeto se torna a fonte de sensações prazerosas, instala-se uma tendência motora que vai tentar trazer o objeto ao Eu, incorporá-lo ao eu; então, neste caso, passamos a falar da “atração” que o objeto promotor de prazer exerce sobre nós, e dizemos que “amamos” o objeto. Inversamente, se o objeto for fonte de desprazer, haverá uma tendência que se esforça por aumentar a distância entre o objeto e o Eu e de seu afluxo de estímulos. (Freud, 1915: 159)

A incorporação, reconhecida como a meta por excelência da pulsão oral, é um termo introduzido por Freud em 1915, no momento em que elabora a noção de fase oral. O termo nasce sob a égide da dualidade pulsional – pulsões sexuais e pulsões de autoconservação – trazendo a junção da perspectiva do sexual e do alimentar. À luz da última teoria das pulsões, na qual a pulsão de vida se opõe a pulsão de morte, a incorporação passa a privilegiar a fusão entre libido e agressividade, o que leva Freud a dizer que ocorre na fase oral da libido uma coincidência entre o “domínio amoroso sobre o objeto” e o seu “aniquilamento”. Laplanche (2001). A incorporação vinculada ao prazer é vista como uma espécie de amor ambivalente, na medida em que é capaz de coexistir com a própria aniquilação do objeto.

Nesta perspectiva, reportando ao texto freudiano “A pulsão e os destinos da pulsão” de 1915, encontramos o uso do termo incorporação apresentando-se sob a égide do princípio do prazer, constituindo-se em uma etapa preliminar do amor, uma “meta sexual provisória”. O mundo externo é decomposto em uma parte prazerosa e um resto, o qual Freud diz ser estranho ao sujeito, sendo a parte prazerosa objeto da incorporação

A incorporação na medida em que se encontra no âmbito da fantasia, se apresenta com um compromisso de encobrir a realidade frustrante. Neste referencial a fantasia, por definição diz da realização de um desejo, mais precisamente um desejo inconsciente, que em sua origem tende a evocar e restabelecer a primeira vivência de satisfação. Ressaltamos que para se falar em fantasia tem que se ter um grau de desenvolvimento egóico, uma delimitação, mesmo que incipiente, entre o “eu” e “mundo externo”. Laplanche e Pontalis [1967:210] apudh Fernandes (2006) diz que em “psicanálise, o limite corporal é o protótipo de toda separação entre um interior e um exterior; o processo de incorporação refere-se explicitamente a este envelope corporal”.

PATHOS / V. 03, n.02, 2016 10

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