Além da reversão do tipo de atenção e financiamento, hospitalocêntrico ou comunitário, é fundamental a transformação da cultura em relação às pessoas que demandam cuidados em saúde mental, e que cuidados serão estes a partir de uma mudança de paradigma no trato com a loucura. É preciso investigar em cada trabalhador e em cada cidadão, os preconceitos, construídos historicamente, em relação a essas pessoas. Os mais importantes e que exigem desconstrução imediata e constante são os de incapacidade e periculosidade. O primeiro porque retira autonomia e contratualidade do sujeito em relação a todos os aspectos de sua vida, inclusive o de poder decidir sobre o tratamento, e todos os outros atos da vida civil. O segundo porque justifica o enclausuramento, além de reforçar o medo dos ditos “normais” em relação aos ditos “loucos”, que em nada ajuda a aproximar pessoas que, nas suas diferenças, sofrem psiquicamente (todos!).
Nessa linha, fui entendendo que análise pessoal (ou o cuidado de si que mais aprouver a cada um), supervisões e formação permanente são fundamentais para a reversão paradigmática no cuidado em saúde mental, no sentido de caminharmos na direção de uma sociedade sem manicômios – posto que estes podem ser invisíveis e reproduzirem-se em serviços abertos, por cada um de nós. A partir daí, de 8 anos para cá, dirijo minha militância antimanicomial ao campo da formação de trabalhadores, em diversos locais. A quantidade de trabalhadores nos serviços abertos de saúde mental cresce a cada ano – importante campo de trabalho - e é fundamental que essas e muitas outras experiências e reflexões sejam partilhadas, que convoquemos cada um à pensar criticamente a prática e se formar para ela, para podermos seguir avançando com a reforma psiquiátrica.
PATHOS / V. 02, n.01, 2015 07