PATHOS / V. 02, n.01, 2015 05
Por ocasião do lançamento da Revista Brasileira de Práticas Públicas e Psicopatologia – importante iniciativa a ser comemorada - ocorrido no dia 30 de maio de 2015, na II Roda Temática de Saúde Mental da FMU, tive o prazer de compor a mesa de abertura e trazer a discussão sobre a Luta Antimanicomial. Aos organizadores, meu agradecimento! Segue um pouco do que pudemos conversar naquele dia, acrescido de alguns dados recentes sobre a atenção em saúde mental em território nacional.
Assistimos no mundo ocidental, depois da segunda guerra mundial, e do horror do holocausto, uma crescente organização na luta por direitos humanos. No Brasil, tivemos os porões da ditadura e os horrores do manicômio, que muito se assemelhavam a campos de concentração2 . A partir da constatação desta realidade, e ligados às grandes lutas da sociedade brasileira no fim dos anos setenta, grupos de trabalhadores começaram a se reunir para transformá-la. Alguns eventos foram bastante marcantes nesse processo, como o I Congresso de Trabalhadores em Saúde Mental, em 1978, a vinda de Franco Basaglia (mentor da psiquiatria democrática italiana) e Erwing Goffmann (importante crítico das instituições totais) em 1979, e outros. O movimento foi ganhando adeptos e consistência teórica, além de experiências práticas inovadoras, inspiradas nas rupturas com a assistência psiquiátrica tradicional em outros países. Em 1987 é fundado o Movimento Nacional da Luta Antimanicomial, com o lema “Por uma sociedade sem manicômios”. Ao mesmo tempo, no campo da assistência, tínhamos projetos transformadores: Santos, a primeira cidade sem manicômios no Brasil (de 1989 a 1997) e seus NAPS, o CAPS Itapeva, primeiro CAPS do país, e a rede de atenção em saúde mental, enfatizando pontos de atenção básica, na gestão da Luíza Erundina em São Paulo (1989-1993).