Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 2º Volume | Page 42

PATHOS / V. 02, nºo1, 2015 41

Os temas emergentes são frequentemente relacionados à importância da sexualidade nas relações sociais, à complementaridade e à disparidade entre os gêneros, à vivência da sexualidade na adolescência e suas distorções, à homofobia e suas facetas, ao prazer e à afetividade, aos símbolos sexuais e à erotização precoce.

Através do debate dos valores vigentes na nossa cultura, de suas implicações sócio-historicas, buscou-se compreender e respeitar as diferenças e os posicionamentos de cada participante como sujeito de sua vida. Discutir sobre como viver e expressar a sexualidade com respeito pelo próprio corpo, exercendo plenamente o direito de escolha de seus parceiros sexuais e da decisão sobre qual o momento mais apropriado em suas vidas para manter relação sexual ou engravidar.

Com a análise da realidade foi possível avançar em direção à consciência crítica e, consequentemente, propiciar que se sentissem solicitadas a participar e contribuir na dinâmica do grupo. Essa dinâmica contribui para a sua formação biopsicossocial, através do reconhecimento de si e do outro, bem como para a introdução de discussões pertinentes ao tema.

Reflexões finais

A experiência advinda desta pesquisa-ação pode propiciar, paulatinamente, que as adolescentes percebessem que em suas vidas representavam papéis, nos quais, neste processo reflexivo, não se reconhecem mais.

Os antigos papéis haviam sido criados em concordância com as ideias que permeavam suas relações socioculturais e eram confirmadas nos apelos da mídia. É exemplo dessa contradição a imagem de uma menina ‘descolada e liberal’ que ‘transa com vários meninos’, sem que, de fato, esse comportamento lhe permita sentir a felicidade do afeto e, ainda menos, de sentir prazer (ou chegar ao orgasmo).

A proposta de estabelecer uma dinâmica descontraída, com seriedade, ao tratar da temática da sexualidade, é um exercício de assumir a tarefa de coordenar grupos, ciente de que para falar de questões relacionadas à sensibilidade do outro, é preciso ‘estar presente’, ser autêntica nas relações.

O processo de desenvolvimento a ser alcançado pelas adolescentes implica no reconhecimento de seus direitos sexuais e reprodutivos, seja em qual for a forma de manifestação da sexualidade humana, descobrindo como expressar livremente sua orientação sexual - heterossexual, homossexual, bissexual, transexual, dentre outras, a condição biopsicossocial, econômica e cultural.

Despertar o potencial de cada uma delas a partir de seus próprios referenciais e colocá-los como instrumentos de superação de suas consciências fragmentadas poderá ampliar suas expectativas a caminho da transformação de paradigmas. Para tanto, o profissional que media a dinâmica de grupo exerce papel fundamental.

Falar de sexualidade em reunião grupal com aquelas meninas estava diretamente relacionado à capacidade de conquistar a confiança das participantes e de poder acompanhar e, se preciso, acalentar - numa relação de reciprocidade - tudo aquilo que emerge e clama por uma alternativa que lhes permita garantir seus direitos com dignidade e sem prejuízo de sua integridade.