Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 2º Volume | Page 39

PATHOS / V. 02, n.01, 2015 38

Com o desenrolar dos grupos, foi observado junto às adolescentes que as ocorrências de desrespeito às regras de convivência reduziram significativamente, pois a frequência e constância nos encontros funcionaram como onda propulsora que atingiu um número cada vez maior de interessadas em participar dos grupos.

Os grupos: uma metodologia para despertar e agir.

O método utilizado para esta intervenção foi chamando de Dialógico. A este método dialógico denominei “Despertar e Agir”, porque através dele os sujeitos podem participar do processo de conhecimento de forma espontânea, motivados por uma necessidade pessoal e subjetiva.

A fim de refletir sobre as questões relacionadas à sexualidade o grupo teve, desde o seu início, espaço aberto para um tipo de discussão cujo tema tem sido costumeiramente estigmatizado e mantido em segredo. Ao nível da Instituição, também, o tema passou a ser coletivizado, mesmo que indiretamente, na medida em que os outros profissionais e as outras adolescentes tinham conhecimento da existência do grupo e mostravam-se interessados e curiosos sobre o desenvolvimento da temática.

Cada grupo era composto por 10 (dez) participantes, em média. Visa a construção de vínculos entre as adolescentes a fim de facilitar a discussão de temas polêmicos e de questões individuais, sem que estas se sintam desconfortáveis ou, até mesmo, melindradas.

Os encontros aconteceram uma vez por semana, com duração de 2 horas. Nos trabalhos, esta pesquisadora co-participava das discussões pontuando aspectos relevantes, intervindo e redirecionando, quando necessário, para assegurar que os princípios éticos fossem garantidos, através do diálogo franco e do respeito às diferenças.

No início de cada encontro, era solicitado que as participantes descrevessem como se sentiam como mulheres sexuadas. Na medida em que se mostravam, emergiam, também, as primeiras inquietações - o encadeamento destas inquietações surgia de forma natural, formando-se uma comunicação em cadeia.

Os grupos se mantiveram em ciclo permanente de rotatividade, devido às progressões da Medida Socioeducativa . Vale ressaltar que somente eram desligadas do mesmo quando recebiam a substituição da medida socioeducativa de internação, sendo que raramente ocorria desistência. Observou-se que ao se adaptarem à metodologia de trabalho, passavam a esperar os encontros com certa ansiedade e a contar com aqueles momentos para aliviarem suas tensões e redirecionarem suas expectativas.

A avaliação oral da participação no grupo era realizada ao final dos encontros, mas, assistematicamente era solicitado registro escrito a elas. Essa assistematicidade se deu porque escrever é um ato que exige desprendimento e, pelo fato da maioria das adolescentes apresentarem defasagens na aprendizagem escolar, registrar por vezes se tornava um incômodo. Nestes registros constavam análises dos avanços alcançados e elaborações de propostas para o próximo momento.