Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 2º Volume | Page 37

PATHOS / V. 02, n.01, 2015 36

O papel do profissional que atua na área psicossocial no trato das questões das garantias de direitos, na especificidade da sexualidade, implica na necessidade de realizar pesquisas e aprofundar o conhecimento acerca das questões que nos inquietam na dinâmica das relações sociopoliticas. A atenção e o respeito ao indivíduo como um Ser Total permite que o profissional possa se aproximar da situação que ele esteja vivenciando, sem perder de vista os motivos que o levaram a ela.

O profissional que assume o compromisso de atuar na dinâmica real da Instituição - onde as representações acontecem - deve saber que vai encontrar resistências de diversas naturezas. O trabalho é solitário e angustiante, tanto para o profissional como para a população atendida.

As artimanhas da sociedade burguesa para manter a ‘ordem social’ - através de seus mecanismos de controle - pode confundir e dificultar a ação que se pretende como transformadora, induzindo o profissional a oferecer sua força de trabalho sem crítica. É preciso estar alerta para não sucumbir a essa ideologia.

A acuidade em captar o momento, sintonizado com a conjuntura, possibilita conhecer e apreender a dinâmica das relações sociais e suas implicações. Para tanto, o profissional vale-se do conhecimento e do desenvolvimento de habilidades que o instrumentalizam para intervir nessa dinâmica.

A oportunidade de transformar o conhecimento silencioso em conhecimento partilhado requereu habilidade, coragem e compromisso. Também, essas potencialidades foram imperativas para intervir no cotidiano, em prol das mudanças que se fizeram necessárias.

Para a aplicação prática do conhecimento em uma instituição fechada, como é o caso do espaço em que se deu a pesquisa/ação, a mediação recaiu sobre as formas possíveis de abordar determinados temas, de garantir a privacidade da interlocução e de expor as questões em linguagem acessível e interessante para as adolescentes.

A garantia da consolidação destas mudanças está implicada com uma verdadeira revolução dos paradigmas e dos preceitos que norteiam a formação dos profissionais das diferentes áreas do conhecimento. Estes são convocados a se engajar, em parceria, nos movimentos de transformação, contribuindo de forma aquilatada para a problematização das questões referentes à sexualidade humana, buscando criar novas propostas de intervenção a favor da redução da discriminação, exclusão e insatisfação na realização do prazer.

O processo de construção desta nova metodologia para conduzir a atividade em grupo, denominada simplesmente Grupo de Sexualidade, atendeu à urgência de criar espaço de discussão acerca da sexualidade feminina e que foi despertada pelo fato de que no contexto da privação de liberdade as meninas não tinham, naquele momento, espaço para expressar a sua sexualidade.

Observando o cotidiano institucional, percebi uma enorme diferença entre o comportamento das meninas e dos meninos frente à explicitação de seus afetos. A intensidade com que elas demonstravam suas emoções era distinta deles, na medida em que faziam questão de externá-los e, muitas vezes, de forma exacerbada.