Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 2º Volume | Page 36

PATHOS / V. 02, n.01, 2015 357

Não sei...Se a vida é curta

ou longa demais pra nós,

Mas sei que nada do que vivemos tem sentido,

Se não tocamos o coração das pessoas.

Cora Coralina

Introdução

Este estudo, o qual deu origem à Dissertação de Mestrado e, posteriormente a este artigo, foi uma reflexão prática da sexualidade feminina de adolescentes em privação de liberdade e sua interface com a conjuntura na qual estão inseridas.

A relevância de tratar desta temática se deu à escassez de pesquisas com adolescentes do sexo feminino que cumprem medida socioeducativa de internação na Fundação CASA/SP. A sexualidade, estigmatizada e permeada por preconceitos e tabus, deve ser abordada de forma a romper paradigmas, conforme preconizam a legislação e as políticas voltadas à criança e ao adolescente.

A proposta de discutir a sexualidade de forma espontânea e a partir da demanda das adolescentes propiciou a criação de grupos de discussão, nos quais as adolescentes pudessem se sentir cada vez mais à vontade para expressarem seus sentimentos, suas dúvidas e suas expectativas.

A pesquisa-em-ação-da-intervenção-profissional, utilizada como metodologia, ampliou as perspectivas do desenvolvimento do processo de crescimento do grupo. Na medida em que os conteúdos emergentes subsidiavam discussões posteriores e se transformavam em novas construções, os participantes se envolviam na dinâmica e caminhavam para estabelecer relações mais autênticas.

Por que pensar em sexualidade no processo socioeducativo, na Medida de Privação de Liberdade?

Vida, sexo, tabus, receios, sensualidade, dúvidas, emoção, prazer e tantas outras razões foram motivadores para este assunto em grupo com as adolescentes que, privadas de liberdade, expressavam facetas da sua sexualidade através de posturas que não se pareciam em nada com a sensação de satisfação que tentavam transparecer como sinceras.

Sem cuidado e respeito consigo, relatavam situações de violenta agressão física e psíquica, com histórico de ameaças, tentativas e episódios de violência sexual - intrafamiliar ou extrafamiliar. Nestas circunstâncias de extrema vulnerabilidade, as relações sexuais são experiências traumáticas.

Ao tratar do tema sexualidade com adolescentes foi possível, não só propiciar o acesso à informação, mas a revisão de padrões de comportamento e a reconstrução de conduta social, relacionados à história individual e às interações vivenciadas.