Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 2º Volume | Page 29

PATHOS / V. 02, n.01, 2015 28

Esse sujeito se vê obrigado a conviver com outros adolescentes, normalmente em um contexto de superlotação2 , com hábitos e estilos de vida diferentes dos seus. O ECA determina que os adolescentes sejam separados por idade, compleição física e gravidade da infração. Contudo, frente às limitações estruturais dos espaços, nem sempre isso é possível.

Em meio a esse caldeirão de diversidades e imposições, a privação de liberdade testa com frequência o sujeito, fazendo com que, muitas vezes, suas fragilidades se potencializem ao invés de serem superadas. Combinado a isso, existem posturas de profissionais que corroboram para que a punição continue, seja pelos olhares, pelos comentários desrespeitosos, xingamentos ou até mesmo, agressões físicas. Essas relações que, sobretudo, são relações de poder, tendem a cronificar o sofrimento do adolescente e fazem com que os princípios da atenção socioeducativa sejam distanciados/deslegitimados. Por vezes faltam olhares adequados à adolescência, a sua condição peculiar de desenvolvimento, às questões de etnia/cor da pele, gênero e sexualidade.

Prevalecem em muitas unidades de internação, em nosso país, as condições físicas de superlotação, insalubridade, concepções arquitetônicas inadequadas à proposta do Estatuto da Criança e do Adolescente (...) A isso são somadas circunstâncias mais graves, como tortura física e psicológica, abusos sexuais, maus-tratos, práticas de isolamento e incomunicabilidade, incluindo as mais diversas manifestações de violência – humilhação, medicalização excessiva como mecanismo de docilização dos corpos adolescentes.(CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2010. p.21)