Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 2º Volume | Page 26

PATHOS / V. 02, n.01, 2015 257

Mônica, 16 anos, nasceu em uma cidade do interior paulista onde morava com seus dois irmãos mais novos e sua mãe. Não conheceu seu pai, pois ele havia falecido meses antes do seu nascimento. O pai envolvia-se com o tráfico de drogas e morreu numa troca de tiros com a polícia. Apesar da vida difícil em termos financeiros, frequentava a escola e brincava com seus irmãos e amigos. Sua mãe, após alguns anos, iniciou um novo relacionamento, vindo a conviver maritalmente com um novo homem e com o qual teve mais dois filhos. De certa forma, Mônica conseguiu preencher o vazio que sentia pela falta de um pai. Seu padrasto era carinhoso e lhe oferecia toda a atenção. A casa onde moravam era pequena, só havia um cômodo, o qual era dividido por um guarda-roupa: de um lado era a cozinha e, do outro, o quarto com uma cama de casal e uma de solteiro. Todos os cinco se ajeitavam por ali. Mal havia espaço entre as camas. O banheiro dava para o quarto, era pequeno e não tinha porta. Em seu lugar, havia uma cortina de plástico.

Quando tinha sete anos, Mônica começou a perceber que pelas manhãs, ao acordar, seu padrasto ficava sentado ao lado de sua cama, olhando e acariciando seu corpo sob o cobertor. Achava aquilo estranho, não entendia o que significava. Sabia que ele era carinhoso, mas sentia que isso era diferente. Lembra-se que isso aconteceu algumas vezes. Diz, também, que seu padrasto bebia muito e vivia envolvido em discussões com sua mãe. Recorda-se, inclusive, de um soco que ele deu no rosto dela. As agressões começaram a ser frequentes; depois que apanhava, sua mãe se calava e deitava em sua cama. Mônica observava tudo em silêncio e com medo, olhando pela fresta do cobertor. Relata que o padrasto, a princípio, trabalhava como mecânico, mas começou a passar mais tempo no bar e deixar o sustento da casa por conta da mãe, ao passo que ela precisou, cada vez mais, se ausentar de casa para sustentar sua família. Costumava trabalhar como diarista em algumas casas.