Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 2º Volume | Page 17

PATHOS / V. 02, n.01, 2015 16

DISCUSSÃO

A partir dos relatos coletados na pesquisa de campo e dos marcos teóricos aqui apresentados, proponho a discussão evidenciando um clamor alarmante. Me refiro ao clamor atual pelo aprisionamento de adolescentes infratores tem ocultado outra parte importante e fundamental do real debate, que é o da reinserção na sociedade, a garantia de direitos e a cidadania.

Não faltam dados para comprovar o completo fracasso das instituições prisionais no Brasil, conhecidas segundo Goffman3 (2005) como Instituições Totais, que terminam por estimular a identidade infratora e a ampliação do conhecimento e desenvolvimento de práticas criminosas. A máquina chamada cadeia, feita com a justificativa de educar, tende a transformar-se infelizmente em uma ótima escola para o crime. Além disso, não há comprovação de que o rebaixamento da idade penal reduziria os índices de criminalidade juvenil.

Abrir as portas das prisões aos jovens menores de 18 anos é fechar as portas não somente para o seu próprio desenvolvimento, mas também para o desenvolvimento de uma Nação, enquanto valores, investimentos em prevenção e empoderamento humano.

Atacar o indivíduo, desconsiderando as inúmeras causas da violência e da criminalidade, denota ser, a principio, uma resposta irracional e violenta a um apelo de uma atual sociedade carente por justiça social, sendo o jovem em conflito com a lei o ideal para ocupar o lugar de depositário da angustia dessa Nação.

É compreensível o ódio, o sentimento de impunidade direcionado aos adolescentes infratores. Entendo que aceitar e validar o que se ventila nas mídias sociais seria entendido aqui como algo estranho, beirando uma total alienação. Contudo devemos nos perguntar: Será que um adolescente que furta um pacote de bolacha no supermercado, ou mesmo um celular dentro de um ônibus, ganhará a mesma visibilidade midiática? Será que a opinião da população brasileira, desejosa da diminuição da maioridade penal, não está muito embasada em casos polêmicos, sensacionalistas, usados de forma inadequada por veículos de mídia e por políticos que se aproveitam de uma insatisfação social para angariarem novos votos?