Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 2º Volume | Page 15

PATHOS / V. 02, n.01, 2015 14

Quando o sentimento de culpa não pode ser reparado ou mesmo dirigido pelo processo de sublimação, o indivíduo se vê obrigado a atuar, dando vida e externalizando seu sentir de forma concreta e violenta, atuando. Poderíamos dizer que seria uma falha dos processos de reparação e sublimação.

Já Winnicott (2005), concebe tal assunto de maneira distinta. Em 1939, no meio da Segunda Guerra mundial, Winnicott é nomeado consultor acerca do plano de evacuação de crianças e adolescentes de seus lares de origem na cidade Londres em detrimento dos bombardeios e risco eminente de vida. Tal experiência ofertou a Winnicott a possibilidade de desenvolver sua teoria sobre delinquência, e mais para frente formula o termo Tendência Antissocial. Winnicott (2005), observou que essa ruptura abrupta no laços familiares e sociais geradas pela guerra, por mais que necessária e como medida de proteção, gerou mudanças de comportamentos e mudanças no ser dessas crianças e adolescentes, sendo a causa de tais manifestações o que intitulou como Deprivação2.

Podemos entender como Deprivação, algo que o individuo tinha e perdeu de forma abrupta e num tempo emocional indevido, diferente da privação em que o indivíduo foi impossibilitado de ter.

Para Winnicott (2005), tal fenômeno, a Deprivação, ocorreu com um grande número de crianças e adolescentes submetidas e esse período de guerra e de evacuação da cidade. Essa quebra das relações e a mudança do ambiente fez com que comportamentos inadequados do ponto de vista social surgissem. Winnicott concebe que tal manifestação, dentro desse contexto de Deprivação, seria uma espécie de busca. Busca daquilo que lhe foi “roubado”, busca no ambiente o que lhe era de direito. Nesse movimento, Winnicott valida a Esperança como a questão central da recuperação e da remissão dos sintomas ditos anti-sociais. O grito no social então é visto como um sinal de saúde emocional, uma forma de pedido de socorro, inadequado socialmente mas saudável no sentido de ter esperança de encontrar o que foi perdido.

Sendo assim, a importância da Esperança para Winnicott (2005) refere-se ao fato do individuo ter fé em reencontrar simbolicamente aquilo que perdeu, e dessa forma poder retomar o seu desenvolvimento emocional. Nesse ponto ainda não se cristalizou a delinquência, pois a Esperança ainda é presente e caberá ao ambiente prover tal continência e sobreviver aos impulsos agressivos, para que a tendência anti-social não se desabroche em delinquência.