Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 11ºb Volume | Page 64

Andréia Alves – Com certeza! Este momento escancara o quanto é urgente e necessário pensar políticas públicas de proteção social. Rever, melhorar e ampliar as que já existem, como por exemplo o Bolsa Família, para que as pessoas tenham, minimamente, condições de buscar outras coisas, outros serviços, de conseguir seu sustento. E conseguir sustento de maneira minimamente digna, porque a dignidade nos coloca num lugar onde é possível acreditar em si. Tira desse do lugar de quem está pedindo esmola. Lugar este que tira da pessoa toda a potência que se pode ter enquanto indivíduo, enquanto alguém dentro da sociedade. Não ter nem para o próprio sustento traz um sofrimento, uma marca no seu ser, na sua subjetividade, enfim... precisamos, sim, lutar por políticas de afirmação social, de afirmação das chamadas minorias, sobretudo, das questões raciais. Precisamos, sim, exigir que programas de transferência de renda sejam melhorados e ampliados. Que lutemos pelo SUS, pelas cotas nas universidades...

Ronaldo Coelho - Todos os países têm pensado no programa de renda mínima. O Suplicy, a pessoa que sempre defendeu isso no Brasil retomou para esse momento. Não sabemos como vai ser... Acho que nessa linha que você está falando, Andréia, sobre a perda da dignidade na situação de pedir esmola, estou aqui buscando fazer um movimento de empatia no sentido de me imaginar nessa situação. É um sofrimento tão grande que, como você falou, a marca que deve ficar possivelmente seja de uma ferida tão profunda que dificilmente a pessoa consiga se pensar em outra posição. Numa posição de potência, do tipo de "eu consigo fazer pelo meu próprio trabalho". Estou aqui pensando junto, enquanto você está falando... acho que fica uma sensação como se a pessoa entrasse num grau de sofrimento que ela pudesse, inclusive, se desautorizar como alguém que tem potência de garantir o próprio sustento por meio de seu trabalho. Ela desacreditasse dela mesma de tão degradante que é essa situação.

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PATHOS / V. 11 n.01, 2020 63