Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 11ºb Volume | Page 63

Andréia Alves - É bacana as pessoas pensarem, por quantos médicos negros ou médicas negras elas já foram atendidas.

Ronaldo Coelho - Psicólogos, também.

Andréia Alves - Psicólogos, também.

Ronaldo Coelho - Quantos psicólogos, psicólogas negras existem?

Andréia Alves - Sim, por vezes eu já tive procura de amigas, amigos, querendo indicação de psicólogo negro ou psicóloga negra e eu tive dificuldade de pensar em alguém, porque conheço poucos. E quanto mais a gente vai acendendo socialmente, profissionalmente, menos pares negros encontramos. E considerando tudo que conversamos e pensando sobre este momento de pandemia, não dá para dizer que estamos todos juntos passando por isso. Que o vírus atinge igualmente a todos.

Ronaldo Coelho - Vai atingir de forma diferente.

Andréia Alves - Sim, ele vai atingir da maneira que está estruturada a sociedade, com a tamanha desigualdade que é a nossa sociedade.

Ronaldo Coelho - Se há tão fortemente essa dimensão do lugar, forçosamente e historicamente destinado, no momento em que se exige uma reconfiguração de si no novo mundo que vai agora surgir, onde muitas profissões vão deixar de existir, é difícil ter que encarar isso, mas muitas profissões vão deixar de existir. E como fica, né, essa coisa de você realmente se reconstruir? Porque vai ser necessário se autorizar a ocupar outro lugar. Outro lugar que antes talvez entendesse que não era para você. Fico também pensando, acho que até tem sido ponto de discussão em outros espaços... uma grande parte das mulheres negras trabalha como empregada doméstica ou em serviços que hoje foram dispensados, como faxina, por exemplo. Essas pessoas devem estar sofrendo muito com os efeitos da pandemia.

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PATHOS / V. 11, n.01, 2020 62