Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 11ºa Volume | Page 41

O texto de Ferreira (2018), aponta também diversos paradigmas que a Universidade de São Paulo ainda precisa superar, como a atuação da polícia militar dentro do campus, que realiza abordagens motivadas por questões étnicas aos alunos. Há relatos de alguns alunos que os policiais que circulam no campus, muitas vezes, os abordam quando estão transitando de um prédio para outro, obrigando-os a passarem por revistas vexatórias. Realidade que a maioria dos alunos brancos não vive no campus.

Como diz Emicida, em sua música “Inácio da Catingueira”:

“Dos cabeça de escravo até a militância anêmica

Minha trajetória é real, a de vocês é cênica

Cínica, cômica, quer alvoroço

Precisa dos preto fudido com grilhão no pescoço

Pois o gueto só é real se tiver roendo osso

Cadê os neguim que devia tá no fundo do poço?”

Outro dado relevante levantado por Viviane Angélica Silva, doutora em educação, é que dos seis mil professores na USP, apenas 120 são negros.

Os planos de ensino nas áreas das Humanidades; Ciências Sociais Aplicadas; Educação e outras disciplinas similares ainda têm como base, em sua maioria, autores europeus e norte-americanos; poucos latino-americanos e pouquíssimos africanos. Só para se ter uma ideia, a obra “Mayombe”, do escritor angolano Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos (conhecido como Pepetela), foi a primeira (e ainda única) literatura africana a compor obra obrigatória da Fuvest de 2017.

Existem alguns coletivos de alunos da USP que estão pensando, dando voz e visibilidade ao que acontece com os alunos negros na universidade. Dentre eles estão o Coletivo Negro Claudia Silva Ferreira, do curso de Letras da USP, e o Coletivo Quilombo Oxê, do curso de Direito da USP.

O coletivo “Quilombo Oxê”, publicou em sua página no Facebook um texto que começa com a frase “Você estuda aqui?”, referindo-se a pergunta que muitos estudantes negros e negras do Largo São Francisco escutam, todos os dias. Por vezes ela não é dita em palavras, mas expressada através do olhar de um segurança ou professor, que os seguem com os olhos como que indignados, questionando se pertencem mesmo àquele espaço ou se são meros visitantes.

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PATHOS / V. 11, n.01, 2020 40