Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 11ºa Volume | Page 38

A cada ano percebemos como o ingresso de alunos nos diversos cursos aumenta a esperança e derruba um pouquinho mais os muros que os separam da formação universitária que é, para muitos deles, uma das poucas possibilidades de saírem da condição a que foram condenados por um sistema capitalista baseado na meritocracia. A resistência está presente também nesse ponto, pois a maioria sofre com a pressão da família para que encontrem um trabalho e possam contribuir com a renda familiar. Poucos alunos conseguem se dedicar somente aos estudos e a maior parte deles divide o tempo do cursinho com trabalhos para ajudar no sustento da família.

Durante uma das rodas de conversa, recebemos um ex-aluno do cursinho, que frequentava nossa atividade no ano anterior e voltou para participar naquela ocasião. O estudante em questão foi aprovado no vestibular da FUVEST e ingressou no curso de Matemática da USP. O agora, aluno da mais importante universidade de São Paulo compartilhou as suas várias angústias, como a dificuldade em arrumar tempo para resolver os exercícios e participar dos trabalhos em grupo – o que requer grande concentração – ter que lidar com o sentimento de não pertencimento ao grupo, por ser negro e pobre e perceber os olhares dos colegas da turma, o que aumenta sua dificuldade em resolver exercícios na sala de aula, questões que em outros ambientes resolve com facilidade.

Esse relato, nos remete à música Favela Vive III, em que o happer Choice diz: “A troca de tiro te assusta, mas a troca de olhar comigo é mais tensa.”

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PATHOS / V. 11 n.01, 20120 29

FOTO: Tumiso.