Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 11ºa Volume | Page 36

PATHOS / V. 11 n.01, 2020 35

Σ

“Eles combinaram de nos matar,

mas nós combinamos de não morrer”

Conceição Evaristo

O Núcleo de Consciência Negra (NCN) existe há 32 anos, atuando dentro da USP. A permanência lá marca uma resistência, mais uma, das tantas que os negros enfrentam num país extremamente racista. Recebe principalmente alunos afrodescendentes de baixa renda, mas também outros estudantes da periferia de São Paulo. É cobrada uma taxa de inscrição simbólica apenas para aqueles que conseguem paga-la.

Em 2015, o NCN recebeu um comunicado pedindo para desocuparem o prédio que seria demolido em função das péssimas condições. No dia seguinte os tratores chegaram, derrubaram uma parte do galpão e não conseguiram demolir o restante porque os alunos acamparam no local. Posteriormente, foram cedidas quatro salas dentro do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB), sendo uma sala de aula, uma secretaria, uma sala de estudos e uma biblioteca. Contudo, somente no segundo semestre de 2018 os alunos conquistaram o direito de utilizar a cozinha do espaço, que era restrita aos funcionários do IEB.

Há uma grande dificuldade por parte da gestão em acessar a reitoria e fica muito claro que o NCN está na USP, mas não é da USP. Os alunos do cursinho não têm direito a utilizar os ônibus que circulam lá dentro, duas linhas administradas pela SPTrans, que fazem a ligação entre a Estação Butantã do Metrô e a Cidade Universitária. Essas linhas podem ser utilizadas gratuitamente pelos alunos matriculados na universidade, com o chamado Bilhete USP (BUSP). Também não podem utilizar os restaurantes universitários (chamados de bandejões), que oferecem refeições mais baratas para alunos matriculados. Assim, a grande evasão que é percebida no cursinho se dá em decorrência de muitos alunos não conseguirem vir para as aulas por não terem dinheiro para pagar o transporte público. Os relatos de alunos que se sentem mal por estarem com fome também são comuns, questões que os professores e coordenação resolvem promovendo um lanche comunitário, quando possível e, até mesmo ajudando financeiramente com o valor para condução.