Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 11ºa Volume | Page 17

PATHOS / V. 11, n.01, 2020 16

Σ

INTRODUÇÃO

Este texto apresenta algumas reflexões que fizeram parte da Dissertação de Mestrado defendida junto ao Programa de Pós Graduação em Serviço Social e Políticas Sociais da Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP no ano de 2019, tais apontamentos surgiram a partir das vivências enquanto trabalhadora de uma das Instituições que compõem o Sistema de Justiça Juvenil da Capital Paulista. No cotidiano do atendimento às famílias, adolescentes, profissionais do Sistema Socioeducativo, da rede socioassistencial e de saúde, entre outros, diversos incômodos são suscitados, dentre eles o Racismo.

O Sistema de Justiça Juvenil na capital Paulista, composto pelas Instituições: Polícia, Poder Judiciário, Ministério Público e Defensoria Pública, operacionaliza há décadas a Seletividade Racial na aplicação de medidas socioeducativas, esta constatação pode ser feita adentrando aos corredores do Fórum das Varas Especiais da Infância e Juventude de São Paulo, localizado no bairro do Brás, onde observamos o perfil dos(as) selecionados(as) para serem criminalizados: majoritariamente do sexo masculino, pretos e pardos, filhos da classe trabalhadora empobrecida.

As cenas da vida real com pessoas pretas/pardas e brancas ocupando determinados “papéis” e/ou “personagens” são tão cotidianas neste Fórum, que não impactam à primeira vista aqueles que não estão familiarizados com os ritos processuais do Sistema de Justiça. São cenas que muito se assemelham a imagens de um país que ao eleger a bandeira da Democracia Racial, construiu a ideia de que, aqueles que ocupam o “banco dos réus” estão lá por serem o “mau a ser combatido” em favor da harmonia da sociedade.