A aposta foi que elementos similares do discurso são e estão presentes em boa parte dos envolvidos na pesquisa, mesmo com características sociodemográficas distintas. A reunião das falas, e na sequência a condensação dessas, é que formarão um discurso coletivo, ou seja, a representação subjetiva e social que o grupo de crianças tem sobre o tema abordado. Após esse momento será realizada a interpretação e análise do material coletado.
Essa metodologia do DSC já foi utilizada em diversos contextos, como por exemplo, na área da saúde na Argentina (Lefèvre, 2000; 2003; 2007), na área de promoção de saúde e vigilância sanitária (Lefèvre, 2005), no trabalho com sexualidade, prevenção e assistência (Lèfevre, 2010), com profissionais da saúde no comparativo entre Brasil e Espanha (Medeiros, 2014), em adolescentes em conflito com a lei (Rentes, 2017), entre outros.
Lefèvre (2014), ainda afirma que trabalhos como esses são necessários para ofertar ao público pesquisado o direito de serem protagonistas em sua fala, uma espécie de provocação e crítica frente a sociedade, e no nosso caso, ao modelo adultocêntrico, por vezes ainda vigente em alguns contextos. Dessa forma, nosso estudo buscou atingir a oportunidade de demonstrar um pouco o que pensam e sentem as crianças frente a atual pandemia mundial.
Esse cuidado e rigor metodológico desenvolvido vai ao encontro do que Costa e Viegas (2010) defendem enquanto pesquisa empírica:
Defendemos que o investigador não faça, simplesmente, o mundo do outro caminhar em sua direção, pois nesse caso, o pesquisador pode, confortavelmente, continuar centrado em sua posição (em sua tolerância). A exigência é bem maior: é utilizar as palavras do pesquisador para descrever o mundo do outro, tal como este o vivência, o que requer que o pesquisador transite no território alheio. Nele não cabem todas as perguntas que circulam no mundo do pesquisador, mas sim aquelas que fazem sentido no mundo do outro. (Costa & Viegas, 2010, p. 250).
Despret (2001) citado por Costa e Viegas (2010), nos oferta uma experiência extremamente válida em que o pesquisador tem a chance de se confrontar com algo estranho e nada familiar, se deparando com a riqueza de um novo saber, empírico, vivo e real. Para tanto, o elemento necessário para qualquer pesquisador seria a capacidade de ser sempre surpreendido.