Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 10º Volume | Page 99

Nesse momento, no ato da segunda situação de homofobia, esse jovem começa a fazer gestos ameaçadores e proferindo as mesmas palavras ofensivas, utilizando a garrafa de vidro de maneira ameaçadora, batendo com ela em sua palma da mão. Mais uma vez, o rapaz do grupo de amigos, assim como o primeiro agredido, opta também em não dar sequência e audiência ao jovem, mantendo-se mais distante e sem manter contato visual com o mesmo.

Após o grupo realizar todos os pedidos dos lanches, já aguardando recebê-los, o jovem rapaz volta a atacar o grupos de amigos, dessa vez dirigindo os ataques homofóbicos a todo o grupo.

Nessa hora, fica mais uma vez evidente ser um episódio de homofobia, por ser característico ao seu enquadramento legal, ao que eram agressões e ameaças gratuitas estritamente ligadas a orientação sexual do grupo, seis rapazes gays, tentando a todo custo violar o direito constitucional quanto a liberdade sexual e cidadania.

Na sequência, esse rapaz não satisfeito com o ataque verbal que proferia, vai corporalmente em direção do grupo, com a garrafa de vidro empunhada nas mãos, encarando e denotando uma postura de enfrentamento, como um tipo de convite para uma briga, tentando intimidar e impedir o grupo de exercer o direito de existência subjetiva e social. Um dado importante a ser trazido é o fato de que esse grupo de rapazes gays possui uma identidade de gênero masculina, homens grandes e fisicamente fortes. Isso é importante enfatizar, pois se esse rapaz agressor fez o que fez com esse grupo possuidor de tais características físicas, dentro de um estabelecimento comercial, cheio de gente e não se intimidou, o que será que ele seria capaz de fazer estando na rua, diante de um gay ou transsexual sozinho, com uma aparência fisicamente diferente? Vale ressaltar também que em nenhum momento o grupo de rapazes fez algo que “justificasse” tal incômodo do jovem , o que já caracteriza ato de homofobia, no qual o simples fato de existirem já é o suficiente para dar a ele o “direito” de agredi-los e de agir criminosamente.

Nesse momento, cansados de ocupar uma postura mais conciliadora e até mesmo de oprimidos, o grupo de amigos começam então a questioná-lo de qual era o problema dele, de qual era o seu incômodo, no intuito de brecar as agressões homofóbicas, uma vez que a negação e a não audiência não estavam funcionando.

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PATHOS / V. 10, n.03, 2019 98