Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 10º Volume | Page 83

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PATHOS / V. 10, n.03, 2019 82

Psiquiatra: Ok! Percebi o uso das luvas quando você entrou no consultório. Além desta mania de higiene, tem mais alguma coisa que você faz que incomode à Carol ou outras pessoas?

Paciente: Ela se incomoda um pouco quando confiro se a porta está fechada e as luzes apagadas.

Psiquiatra: E como você costuma fazer essa conferência?

Paciente: Normal! Só gosto de checar mais de uma vez para me certificar. Porque, como eu disse, sou uma pessoa precavida.

Psiquiatra: Quantas seriam “mais de uma vez”?

Pacientes: Quat... (fala por entre os dentes)

Psiquiatra: Desculpe não entendi!

Paciente: Quatro vezes!

Psiquiatra: Certo! E, em lugares públicos, você tem algum ritual? Além do uso de luvas?

Paciente: Não considero um ritual, mas não gosto de pisar em listras e costumo pedir para as pessoas não tocarem em mim – se percebo uma aproximação ameaçadora. Afinal, não sou obrigado a gostar de ter estranhos me tocando.

Psiquiatra: Melvin, há quanto tempo você tem esse comportamento? Ou, como você diz: essas medidas de precaução?

Paciente: Não me lembro, exatamente, mas acho que me tornei mais consciente da necessidade de autocuidado por volta dos meus 20 anos, quando comecei minha carreira de escritor.

Psiquiatra: E você acha que, de alguma forma, esses hábitos têm atrapalhado no seu dia a dia?

Paciente: Sinceramente, não vejo porque atrapalharia. Minha organização só me ajuda com o meu trabalho, pois trabalho em casa e gosto de ter o meu ambiente sob meu controle.

Psiquiatra: E em relação ao convívio social, você acha que seu comportamento te prejudica?