Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 10º Volume | Page 8

PATHOS / V. 10, n.03, 2019 07

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Editorial

Torcer o cano do revólver – é o que nos mostra o monumento à não violência exposto em frente à sede da Organização das Nações Unidas, em Nova Iorque. Concebido depois do assassinato do cantor John Lennon, a obra faz parte de um projeto internacional pela não violência com réplicas espalhadas por diversas cidades do mundo.

Falar sobre violência e seus modos de enfrentamento se faz pertinente, ainda mais com dados tão alarmantes acerca da letalidade brasileira. Estudos como os do Atlas da Violência, publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), de 2019, apontam que as maiores vítimas de homicídio no país são jovens – cerca de 60% das mortes de homens entre 15 a 19 anos – negros, LGBT+ e mulheres. Apesar desses dados, as políticas de governo insistem em atentar contra os direitos humanos e inflamam ainda mais o cenário de horror. Persiste, entre outras ações, na flexibilização do porte de armas e aprovação do excludente de ilicitude.

O mesmo estudo aponta que os números de mortes violentas não são ainda mais alarmantes porque o Estatuto do Desarmamento de 2003, embora severamente criticado e atacado por alguns seguimentos da sociedade, desempenhou significativo impacto na escalada armamentista da população. Bolsonaro, ao avesso disso, na criação de seu novo partido, escancara símbolos que evidenciam o movimento neofascista que tem colocado em voga sua atuação enquanto “político de carreira”.

O Aliança pelo Brasil tem sua escrita cravejada em projéteis de arma de fogo, 38 como número de sua legenda – clara referência ao calibre de um revólver –, além de seus integrantes manterem o sinal de “arminha” feito com as mãos como uma espécie de continência e submissão ao poderio de um Führer à brasileira. Poderíamos pensar em uma sequência de coincidências, haja vista o absurdo, mas é evidente o regozijo de seus integrantes ao pronunciar a escolha de seus símbolos e colocá-los supostamente a serviço dos bons e conservados costumes e da moral cristã.

Infelizmente, esse movimento de empuxo à violência não é exclusivo do presidente da república e seus comandados. Alguns governos locais, em suas ingerências, estimulam a letalidade como política de Estado. Citamos como exemplo o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel.