Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 10º Volume | Page 70

Penso que o ponto de partida, se não é consensual, é amplamente majoritário. Há uma ampla concordância sobre a missão fundamental da escola nos períodos que antecedem à universidade: ensinar bem as disciplinas que conformam a base do conhecimento: português, nos meus tempos de escola primária era – boas lembranças – língua pátria; aritmética-matemática; ciências que depois se desdobraram na física, química, biologia; história; geografia. Penso, em sintonia com muitos educadores, que o ensino da filosofia deve começar na infância, na época esplêndida dos “por quês”, dos “para quês”. Platão já dizia que filosofia começa no alumbramento diante da vida, do mundo, do universo.

Outras disciplinas, como as línguas estrangeiras e a cultura de povos fundadores de nossa nacionalidade, emergem reivindicando os seus espaços. A religião como matéria escolar tem sido objeto de um fecundo debate em face da emergência do Estado laico. O Estado laico, por sua vez, não dispensa os valores morais e éticos que se articulam muitas vezes com as tradições religiosas.

Se há um consenso progressivo em torno dessas disciplinas básicas que assentam os alicerces do conhecimento, do saber e da cultura, cresce também, entre as pessoas comprometidas com a qualidade das nossas escolas, a compreensão de que o conhecimento não deve ser imposto de forma autoritária e deve abrir os horizontes para o exercício dos direitos e deveres da cidadania. Esta abordagem pressupõe, desde os momentos inaugurais do aprendizado, o respeito e o estímulo às potencialidades do educando, a motivação, o desenvolvimento da curiosidade mental, o desejo de apreender e aprender, o desejo de ser, o despertar do alumbramento platônico. Integra o processo educativo a expansão da capacidade de pensar, de refletir, de estabelecer progressivas conexões entre as disciplinas estudadas, entre o que se estuda e a realidade em que vive o educando.

O exercício do pensamento sem dogmatismo pressupõe uma leitura, uma compreensão que se alarga em face da vida nas suas múltiplas e misteriosas manifestações. Nós, seres, humanos somos seres sociais, comunitários. Não existe o ser humano sozinho. Somos dependentes uns dos outros na nossa dimensão societária. A educação tem a ver, portanto, com as relações humanas até porque o próprio conhecimento tem essa dimensão compartilhada e coletiva. As chamadas ciências humanas e sociais incidem e se alimentam com particular intensidade nesse campo em que estabelecem as relações e os conflitos humanos.

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PATHOS / V. 10, n.03, 2019 69