Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 10º Volume | Page 66

Quando procurei compreender a Psicologia e, então, entrar para o curso, sempre mantive um pensamento de poder participar e realizar algo que fosse para além dos muros institucionais, algo que não se encontra explicitamente em livros ou cursos do dia a dia. Nos dois primeiros anos de formação dentro de uma instituição privada e pequena, não se tem muito que fazer. Aquele desejo cativado pelos feitos de grandes Universidades vai se esvaindo, gerando frustrações e sensação de impotência, o que me angustiava cada vez mais, ao ponto de questionar e dialogar com as/os professoras/es antes e depois das aulas.

O primeiro passo dentro de tudo isso foi um coletivo de teatro com veteranas/os do curso, mas, logo, foi parando por estarem se formando e saírem da instituição. Um período depois, foi fundar o Centro Acadêmico de Psicologia Nise da Silveira, estimulado pelas/os professoras/es, colegas de curso e outras/os colegas de outras Universidades que foram auxiliar nessa construção. Nesse novo trajeto, uma pessoa fundamental que estimulou, acompanhou, orientou e continua orientando é a professora Adriana Marino que faz parte dos projetos: Psicanalistas na Praça Roosevelt, Psicanalistas pela Democracia, Fórum do Campo Lacaniano e Revista PATHOS. Ao acompanhar este engajamento da professora, motivou-me mais ainda a alçar voos para fora dos muros institucionais, o que sempre foi um objetivo. E esse fora um grande voo: participar do grupo de estudos organizado pelo Espaço Mutabis em parceria com as/os Psicanalistas na Praça Roosevelt sobre “As práticas da Psicanalise dentro das Instituições Públicas” que acontece também nessa mesma praça.

Ao me engajar nesses espaços, surgiram as principais dificuldades de um morador da periferia Guarulhense que são a distância e as condições financeiras para locomoção. O transporte público tem um valor exorbitante e o trajeto dos percursos é, em média, de uma hora e meia, apenas para ir a São Paulo. Entretanto em meio às dificuldades, obtive apoio e auxilio de pessoas próximas que acreditam na potência desses espaços. E, participando desse grupo de estudos, obtive uma aproximação com as/os psicanalistas que atuam na Praça Roosevelt, aprofundando meus questionamentos, ocupando esse espaço no período de eleições em 2018, o que foi norteador para iniciar o processo de formação do coletivo: Psicologia nas Fronteiras.

As eleições de 2018 causaram movimentos extremos em nossa sociedade, gerando muitos debates rasos e fundamentalistas, tidos como verdades absolutas, o que se tornou um gatilho para muitas pessoas adoecerem mentalmente. Nos espaços em que ocupava, ouviam-se muitos discursos sobre amigas/os, colegas e conhecidos/as que estavam com depressão por não aguentar mais ocupar os espaços em meio a estas “verdades absolutas” que eram e são tão agressivas.