Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 10º Volume | Page 54

Nos enunciados discursivos do adolescente Progênio (escolhido para este Artigo), este refere o abandono à escola devido ao seu envolvimento com atos infracionais, com destaque para:

Quantos anos você tem? R: 17. Há quanto tempo você está cumprindo a sua medida? R: 9 mês. Em que série você estava estudando? R: Eu ficava..., fazia a segunda etapa lá fora. Em que ano você estava estudando, você lembra o ano? R: Alembro, 2007. Você concluiu? R: Não, não terminei. Por que? R: Porque eu aprontei, fiz onda lá fora, eu, daí saí fora da escola. Fez onda e veio parar aonde? R: Na FUNCAP!... (sic).

Sob esse enfoque, percebemos a fragilidade que há no acompanhamento de adolescentes nos ambientes escolares, uma vez que produzem no sujeito (e neste caso o que está em conflito com a lei) a não possibilidade de reafirmação dos valores ético-sociais, não o tratando como sujeito de direito, como alguém que pode se transformar, que é capaz de aprender moralmente e de se modificar. A escola não está preparada para lidar com estes sujeitos.

Podemos perceber, o desinteresse destes sujeitos pela escola é real e faz parte das tristes estatísticas apresentadas por diversos órgãos e pesquisadores. Se esta escola está despreparada para lidar com a adolescência dita “normal”, imagina a que está em Conflito com a Lei? Vejamos o enunciado seguinte:

Repetiu alguma vez de ano? R: Cinco anos eu repeti. Que série? R: A segunda série. Por cinco vezes você repetiu a segunda série! Por quê? R: Ah! Porque eu ficava porre na sala de aula, eu levava uma mochila com mangueira, ai eu escrevia uma letra e bebia, ai a professora sentia cheiro de cachaça na sala de aula, mas eu tava com a mochila e ela nem se ligava, mais com cheiro de cachaça assim a pessoa não morre não! Eu já tava lavado já! E era você? R: Sim, era eu. Levava vinho às vezes. Com quantos anos você começou a beber R: Desde os onze anos eu bebo já (...). (sic)

Durante a escolarização, os seus efeitos são perceptíveis, principalmente no campo da formação psicológica do sujeito, o que sem dúvidas, nos leva a não relativizar as questões que envolvem a análise do abandono ao ambiente educacional por adolescentes que cumprem MSE de Internação dentro dos Espaços da FASEPA. Este abandono ao ambiente educacional devido ao envolvimento com a criminalidade e a violência é de extrema relevância para esta análise, pois a inserção social dar-se-á na proporção direta e efetiva da educação, vista como possibilidade de revisão de valores, de apreensão de conhecimentos e de vivências que permitam experiências de convívio com o outro na dimensão do respeito mútuo e da convivência pacífica.

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PATHOS / V. 10, n.03, 2019 53