Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 10º Volume | Page 46

Sentindo-se abandonado por tudo e por todos, não poderia realmente apresentar um quadro emocional estável. Este adolescente ao cumprir a sua sentença de internação, após 1 (um) ano e 7 (sete) meses de medida em regime fechado e de todo trabalho realizado junto a ele, foi liberado para cumprir regime de Semiliberdade2, fugindo daquele Espaço. Voltou para casa, para o mesmo bairro em que morava e para os mesmos “amigos”, descumprindo a nova medida estabelecida pelo Juizado da Criança e do Adolescente. Hoje, ocupa um pequeno espaço de terra no Cemitério do Tapanã / Belém-Pa. Morreu no dia 23 de outubro do ano de 2007, aos 17 anos em um confronto com a polícia.

Por ter sido o primeiro adolescente que tive contato num dos espaços da FASEPA, tenho algumas lembranças (memórias) e um sentimento de não cumprimento do dever, apesar de saber que o problema da (res) socialização inicia (ou termina) com a falta de Políticas Públicas voltadas para a consolidação de uma base mais eficaz junto a estes sujeitos, para o pleno desenvolvimento de sua juventude (Costa, 1990).

A FASEPA não tem um levantamento de quantos adolescentes, que já cumpriram Medida Socioeducativa dentro de seus espaços no estado do Pará, morreram ao longo de sua trajetória, mas de vez em quando nos deparamos com alguns deles estampados nos noticiários, tendo sido mortos por diversos motivos: confrontos com a polícia, rivalidades com traficantes, assaltos mal sucedidos, entre outros. Penso que estes números podem ser alarmantes e nos mostrariam o quanto a Socioeducação ainda têm muito a caminhar na efetivação de seus preceitos. Apesar de ter sido uma pesquisa realizada em 2009, suas análises além de atuais são o reflexo dos (des) caminhos da Socioeducação.