Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 10º Volume | Page 45

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PATHOS / V. 10, n.03, 2019 44

DESCREVENDO O PERCURSO... COMO TUDO COMEÇOU...

Neste Artigo intitulado “ADOLESCENTES EM CONFLITO COM A LEI: memórias e trajetórias de vivências na escola” têm-se a intenção de apresentar um dos eixos corporificados no corpus de minha Dissertação de Mestrado: Abandono escolar dos adolescentes que cumprem Medida Socioeducativa de Internação nos Espaços da Fundação de Atendimento Sócio educativo do Pará- FASEPA1.

Este estudo partiu de minhas inquietações, inicialmente como pedagoga, depois como gestora de uma das Unidades desta Instituição. Foi neste contexto, repleto de exclusão e abandono escolar que me senti instigada em buscar respostas que pudessem nos fazer analisar e refletir de que forma poderíamos contribuir nas análises das práticas escolares de muitos adolescentes que estão em Privação de Liberdade e que apresentam um quadro altíssimo de evasão e repetências em seus currículos escolares.

Ao adentrar pela primeira vez em um dos Espaços da Fundação da Criança e do Adolescente do Pará, no início do ano de 2006, me senti como que encarcerada pelo pesado portão de ferro que se fechou atrás de mim. Percebi de imediato, que ser pedagoga num espaço como aquele, não seria nada fácil. Assim, ao me dirigir a Sala de Atendimento Técnico, fui “convocada” pela gestora daquele espaço a atender um dos adolescente que estariam sob minha responsabilidade e que estava “atribulado” (termo adotado por eles para referir-se que não estavam tranquilos).

Nesta primeira abordagem junto ao referido adolescente, era perceptível o campo delicado em que estávamos atuando, pois ali estava um adolescente que cometera um ato infracional de natureza grave, um assalto seguido de morte, sem aparentemente o menor sentimento de arrependimento, longe do sistema educacional há algum tempo, sem a menor perspectiva de vislumbrar um futuro para a sua vida, pois, segundo ele, seus familiares cansados que estavam de lidar com essa situação, já não se sentiam responsáveis por este, e sozinho, ele podia fazer o que quisesse.