Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 10º Volume | Page 39

A descontinuidade do projeto CECCO, o descompromisso e o autoritarismo político desmantelam e extinguem ideais e sonhos, dos quais também eram os da população. Tentam calar os questionamentos ideológicos, nublar a nova visão de homem e de mundo impressos em sua tarefa de produzir variabilidade. O abandono político desfigura a diversidade, totaliza novamente, pois capitaliza os investimentos naquilo que é para o ganho de poucos em detrimento do coletivo.

EFEITOS DAS PRÁTICAS DE VANGUARDA

Como resultados, aparece tão presente a diversidade, a abarcar todos os grupos heterogêneos, sem separação entre público alvo ou geral, democratiza as relações e renova as aspirações de cidadania. Valoriza a convivência e a ética do movimento causado pelo diferente e os processos, e não somente a aquisição. Há valorização dos efeitos e não dos resultados, não há palco ou estado cristalizado que possa capturar os efeitos das atividades do CECCO. Caso contrário, falaríamos de algo separado de sua potência (DELEUZE & GUATTARRI, 2010).

Não há como medir a satisfação do “renascer” dos usuários, a sensação de se sentir “novamente” humano, de pertencimento a um grupo social, o prazer gerado pelo conviver terapêutico. Não há instrumento de medida para o sentimento de amor, bondade, fraternidade e inclusão. Podemos dizer que somente quem os tem e recebe sabe o que significam e o valor que lhes dão.

Alguns usuários chegavam de manhã arrumados, com autoestima melhorada com desejos, a gente percebia na carinha deles, mais felizes, não dava para medir em números. Havia pouca reinternação, mas não tinha isso documentado. Nós precisávamos de braço, não dava tempo para pesquisa. O impacto na saúde na rede de atenção psicossocial e sociedade em geral. Realmente foi um novo paradigma de saúde que começou a surgir na cidade e foi se espalhando com o CECCO Ibirapuera. Teve impacto enorme, até dentro da própria Secretaria de Saúde.

O cidadão marginalizado e excluído perdera, por muito tempo, seus direitos e sua dignidade, por ser considerado “louco” ou não pertencente ao código social (ROBAINA, 2012). Nos CECCOs, retomaram seus itinerários, o laço social, seus desejos e sonhos.

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PATHOS / V. 10, n.03, 2019 38