Trata-se da proposta inicial do grupo: fazer ressoar a voz das vítimas. Significa convidá-las a falar sobre sua dor para tentar dimensioná-la, transformando, semanalmente, a violência do ato em palavras. Cabe ressaltar que o grupo é formado apenas por mulheres, mas seus parceiros também foram convidados a participar de outro grupo. No entanto, todos alegaram impossibilidades relacionadas ao trabalho.
Além disso, das cinco mulheres vítimas de violência participantes do grupo, duas são oriundas de outros estados e uma da Grande São Paulo. Todas residem em regiões periféricas da cidade, marcadas pela violência – produto da desarticulação entre corpo e lugar, como aponta Endo (2015):
A ruptura entre esta articulação cria o espaço onde qualquer violência pode advir, cria-se a figura do corpo desterrado, objeto que circula indevidamente pela cidade e, como tal, pode ser eliminado, uma vez que ninguém reclamará o seu desaparecimento, para muitos, desejável. (p. 75)
O corpo incirscunscrito não tem barreiras claras de separação ou evitação; é um corpo permeável, aberto à intervenção, no qual as manipulações de outros não são consideradas problemáticas. Por outro lado o corpo incircunscrito é desprotegido por direitos individuais e, na verdade, resulta historicamente da sua ausência. No Brasil, onde o sistema judiciário é publicamente desacreditado, o corpo (e a pessoa) em geral não é protegido por um conjunto de direitos que o circunscreveriam, no sentido de estabelecer barreiras e limites à interferência ou abuso de outros (CALDEIRA, 2000, p. 370).
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FOTO: Cristina Cecyaçuapé , Diego Rodrigues , Cauê Taiguara.