Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 10º Volume | Page 16

Ao serem acolhidas, algumas vítimas demonstram o interesse de conhecer outras vítimas que passaram por situações semelhantes. Essa iniciativa é avaliada como de grande importância para sua assistência, pois denota uma disposição para romper o isolamento e compartilhar o sofrimento de forma coletiva, apostando no outro como colaborador e não como ameaçador, conforme a violência se apresenta.

Atento a essa demanda, o analista, acompanhado de uma estagiária de Psicologia, convidaram as vítimas interessadas em coletivizar suas experiências para participar de um dispositivo de análise em grupo. A proposta era oferecer um espaço acolhedor no qual tivessem a oportunidade de falar sobre a violência sofrida, facilitando, assim, a sua expressividade em meio à angústia e ao sofrimento ocasionado pela perda violenta de seus entes queridos.

Foram convidadas dezesseis participantes e, nesse processo, alguns desafios foram encontrados, como a incompatibilidade de agenda e a resistência em dividir sua história com pessoas desconhecidas, manifestando sentimentos como vergonha e medo frente ao que iriam se deparar no contexto grupal. Eram esperadas pelo menos duas vítimas para o início do grupo e, diante dos desafios apresentados para comparecerem no atendimento, algumas hipóteses foram levantadas.

Uma delas é o momento para se falar sobre isso. Observa-se, no cotidiano de atendimentos do programa, que algumas vítimas optam pelo não comparecimento, justificando, por vezes, uma impossibilidade de falar sobre a perda naquele momento. Compreende-se, assim, que o comparecimento em um centro especializado e a possibilidade de falar sobre o ocorrido pode chancelar, na realidade, um acontecimento que a vítima reluta em constatar. Outra hipótese levantada compreende a falta de confiança da população para com os serviços públicos, o que poderia levar as vítimas ao descrédito relacionado à eficiência do programa.

Dessa forma, o grupo foi composto por cinco participantes, todas mulheres, com faixa etária entre 27 e 54 anos, sendo apenas 20% com ensino superior e três delas moradoras de regiões periféricas da cidade de São Paulo. O enquadre estabelecido compreendeu a realização de um encontro semanal, às quintas-feiras, com duração de uma hora e trinta minutos.

PATHOS / V. 10, n.03, 2019 15

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